Tuesday, March 28, 2006

A dor e a delícia de ser o que se é

Dia quente, como todos os outros neste último mês.
Resolvo tentar cumprir parte das minhas obrigações com as leituras acadêmicas - principalmente depois da confirmação que sim, serei uma pobre bolsista.
E cometo a gafe terrível de ir na Livraria Saraiva do Rio Sul.
Além de não existir NENHUM terminal de consulta funcionando, o que me obrigou a procurar uma atendente para me ajudar a localizar os quase dez livros que queria, a dita cuja insistiu em escrever errado o primeiro título que dei. E isso que não era nada complexo. Eu só pedi por "identidade cultural".
Fora que eles conseguem a façanha de usar um critério diferente de ordenação para cada estante. Ora é pela inicial do autor, ora pela inicial do sobrenome, ora pelo título, ora por assunto e dentro do assunto por autor, ora pela vontade do atendente, ora jogando nos búzios. Só pode.
Agradeci e fui embora, rumo a outra livraria que eu acreditava ser mais qualificada. Fora do shopping, que é enorme mas só tem uma, repito, UMA livraria.
Não vou nem dizer o nome da segunda que fui, só digo que é famosa, fica na Ataulfo de Paiva e funciona 24 horas.
Lá também não há sequer um terminal para que o cliente possa saber de si e do seu livro procurado, forçando-me a pedir ajuda ao atendente.
Que foi, com o perdão da classe dos atendentes, tão ignorante quanto a média dos que já me atenderam.
A pobre Freda Indursky virou Indusque na busca. Castells, ele conseguiu escrever de três jeitos errados até acertar. Stuart Hall, eu preferi pedir pelo título, que ele também conseguiu errar. Detalhe importante: eu tinha um papel escrito na mão onde apontava o que estava procurando.
Mas, para meu alívio, um dos livros que pedi estava em estoque! Pelo menos, foi o que o monitor disse até a atendente ligar para lá, pedir pelo título errado e me dizer, obviamente, que não tinha o livro. Reparem que ela conseguiu errar um título dito "Mozart: sociologia de um gênio".
Daí desisti.
Resumo: saí de lá com duas revistas de mulherzinha (a saber: a Nova e a Elle, esta última com o muito babável, pra não dizer outra coisa mais explícita, Kiefer Sutherland) e um maravilhoso Nietzsche em 90 minutos - ou, como eu carinhosamente apelidei a série, Nietzsche para débeis. :)

Agora começa o manifesto.
Por que, meu Deus, por que é que atendente de livraria tem de ser tão ignorante??
Por que é que as livrarias não cometem a inteligência suprema de instalar muitos quiosques de auto-atendimento, poupando-se do constrangimento de ver cliente não voltar por conta do atendimento estúpido de um desqualificado?
Por que é que ninguém se dá conta de que é exatamente por isso que as livrarias online explodiram - porque justamente eu sei melhor do que ninguém o que é que estou procurando?
Por que, por que, por que?
Só pra não dizer que não conheço nenhuma livraria digna de respeito, conheço só uma.
E adivinhem. O dono dela é um bibliotecário.
Ela se chama Palavraria e fica na minha Porto Alegre querida, no meio de um bairro com muito fervo, do lado de uma baita videolocadora. Além de ser um espaço maravilhoso para eventos e contar com um café delicioso, a livraria está sob a batuta do Carlos, que é, fora de brincadeira, um dos melhores profissionais que conheço. E não se mixou de ir para um espaço mais "comercial", para além das estantes classificadas, catalogadas e etiquetadas das bibliotecas. O Carlos trata cliente como leitor, vai atrás, usa seus invejáveis contatos e, shazam, consegue o livro pedido, pra hoje ainda, se duvidar. Isso sem falar na memória privilegiada dele, que vasculha as estantes da livraria e cata, lá de longe, pela lombada, o livro que está sendo procurado.
Pois é, sem ser muito classista mas já sendo, devia ter um bibliotecário em cada livraria. Pra nos livrar do mal do mau (e ignorante) atendimento. Sad but true.

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