Sunday, August 27, 2006

The Power of Goodbye

Continuo me assustando com as coincidências da vida. Desta vez, o susto vem de novo do Carpinejar. Estou quase me perguntando também se ele existe de verdade. Olha isso:

Recomeçar

Casar cedo é como um rio que se retira para a outra margem, para alguma aldeia quieta e verdorosa, com crianças a fazer bolas de vento. A imensidão íntima coberta da forragem do limo. A limpeza da varanda. A mesa da janela e os passarinhos adivinhando o lugar das migalhas.

Deseja-se passar toda a vida com o amor protegido, confiável, definitivo como o domingo preguiçoso. Não se prepara um plano alternativo, o casamento aumenta nossa idade.

Mas casamentos terminam, e como voltar do exílio voluntário? Como ser jovem novamente?

O corpo não é rijo, os seios estão estrábicos, a cintura aberta, as rugas e as varizes se desesperam com o verão. O amor perdoava o corpo. A companhia perdoava o tempo do meu corpo porque suas mãos masculinas faziam parte dele.

O corpo é mais grave isolado, mais duro, menos meu. Mais exposto às denúncias do espelho. Sem um fiador que assegure a beleza da convivência.

A impressão é que não se perdeu o marido, perdeu-se a mulher em si capaz de conquistá-lo. Perdeu-se o encantamento, a inconseqüência, o que fazia aproximar-me das pessoas sem desconfiança. Se eu me casei com dezoito anos e estou com trinta e dois, agora separada, agora com filho, como me curar de um desamor? Como retomar as festas e não ostentar a caça? Ele era meu colega de faculdade, havia a identificação, a sintonia, as afinidades em busca do diploma. Bastava aparecer e estávamos na mesma sala. A juventude fazia amigos com facilidade. Toda manhã na mesma aula. Havia tempo para se conhecer. Havia futuro. E agora? Quem me dará igual chance? Em uma noite, não consigo me mostrar. Não consigo convencer. Não consigo dizer tudo o que não quero repetir e o que quero melhorar nos quatorze anos de casamento. Não consigo manter-me atenta e interessada numa conversa tediosa. Minha paciência é para a nudez. Sozinha, não poderei encontrar um olhar cúmplice para sussurrar: "vamos embora?". Cheia de insegurança, precisarei tomar as decisões e soar independente.

Eu ainda não me recuperei da frustração do casamento. Não que tenha sido ruim, foi bom enquanto acordados. Acabou e ainda me resta a dúvida se acabou ou desistimos de nos esforçar. Ou se acostumamos a dormir em camas separadas e sacrificamos a vontade mútua de anoitecer. Ele não mais conhecia o que vestia para ir trabalhar. Confundia minhas roupas velhas com as novas. A pior traição é a distância da cordialidade. A distância de uma perna a outra das palavras.

Não posso voltar atrás, sobrava razão em me despedir. As oliveiras acenavam e não me diziam mais respeito. Esperava que ele voltasse diferente, ansioso, redimido de suas dívidas comigo, pronto a reiniciar. Ele só foi, chorou e foi, e não mais me procurou. Como se eu precisasse fazer o trabalho sujo por ele. Nem se separar ele conseguiu. Eu tive que me separar de mim no lugar dele. Ele não soube me reconquistar, muito menos terminar.

Estou de volta mais cética, mais pessimista. Para amar, terei que reaver a fé. Fazer a mala e deixar a aldeia segura. Voltar à cidade grande da esperança. Não posso contar com as amigas casadas para sair. E não será fácil encontrar um homem que se dê bem com meu filho, que seja inteligente e humorado, que não me esqueça para falar unicamente de si.

Como seduzo? Desculpa a pergunta, é falta de treino. Como seduzir sem parecer grosseira e atirada? Como me seduzir, principalmente?

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