Friday, June 29, 2007

Sadeness

Carpinejar, em cheio.

Como é fácil se entristecer. Preste atenção. Não é só comigo que acontece, chegue para qualquer um e faça o interrogatório insistente. Dependendo do estado de espírito, o interlocutor - antes confiante e impassível - é capaz de chorar.

Somos tristes adormecidos, tristes amansados. Quem não é triste relendo o jornal de ontem? Descascando o rótulo de uma garrafa? Quem não é triste aguardando um ônibus? Esperando um trem com o olhar vaporoso de dia terminando? Quem não é triste com as mãos no bolso? Ou partindo cedo ao serviço, nadando na cerração, sem adivinhar se terá sol em seguida ou um toldo de nuvens negras.

A tristeza vem com a calma, é irmã da simplicidade. A tristeza vem com a sabedoria, é irmã da leitura.

A tristeza permite revisar as gavetas e entortar as golas. Virar a cadeira encharcada com lentidão. Recupera o que esquecemos de cuidar. A tristeza nos empurra a colocar datas nas fotografias, a alinhar em ordem crescente os amores extraviados, a revisar os canhotos dos cheques abertos, a imaginar as alegrias que ainda não vieram. Nossa confiança não resiste aos questionamentos. Nossa confiança está acostumada a rebater com um oi, tudo bem e tchau.

Somos tristes. Sempre tristes. Especialmente aquele que fez as perguntas.

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