Friday, December 29, 2006

O leãozinho

Como a semana é de férias e não de ócio, bati o olho na biografia da Danuza Leão e me pus a ler. O livro se chama "Quase Tudo", e com muita propriedade. Essa mulher de fato já fez quase tudo na vida.
Eu também não acho que ela seja um portento da escrita, mas confesso que depois do livro fiquei admirando a figura - longe de ser por motivos profissionais, mas por motivos de trajetória mesmo. Agraciada com uma boa dose de sorte - assim como o meu ídolo Ricardo Semler - e atropelada pelo destino diversas vezes, Danuza conseguiu fazer dos limões uma limonada bem bacana, até.
E, de novo, como tantas vezes neste ano, li coisas que falaram direto a mim.

"Abriu-se uma nova vida para mim. Podia sair na hora que quisesse, ir para onde quisesse, voltar na hora que quisesse, essas coisas tão banais mas tão importantes. Minha liberdade era total; procurei tirar da cabeça os últimos anos que tinha vivido e me preparei pra outra etapa. Não sabia o que me esperava, mas, fosse o que fosse, estava firmemente decidida: a partir daquele momento, a única dona de minha vida seria eu. Isso foi em 1964, estamos em 2005, e mantive minha decisão.
Mas essas determinações têm um preço: houve - e ainda há - longos momentos de solidão, sem ninguém com quem dividir dores e alegrias; houve dias em que eu olhava para o telefone esperando que ele tocasse, para não me sentir tão só. Mas cada um é do seu jeito, o meu é esse, e não me arrependo. Afinal, a escolha foi minha."

"Lá no fundo talvez eu achasse que, o dia em que uma mulher vestisse um lindo vestido de Chanel e usasse esmeraldas, tudo mudaria, ela passaria a ser outra, mas a verdade é que nada muda e você volta a ser a mesma pessoa de antes. E pensei que, mesmo adorando essas coisas maravilhosas - que, aliás, adoro -, não vale a pena fazer nenhum tipo de concessão para tê-las, pois, quando a festa acaba, nada disso quer dizer nada, e nenhuma festa dura para sempre."

E talvez a melhor de todas:
"O sofrimento nos modifica, e sei que mudei; em alguns aspectos para melhor, em outros para pior. Ter os filhos crescidos e a família cada vez maior, a vida profissional em ordem, a saúde boa, ter deixado para trás a procura por um namorado ou marido, é - embora poucos se dêem conta - uma boa fase. Você sabe exatamente do que gosta, o que quer, não perde tempo com bobagens. É a hora de poder se dar a certos luxos, o que no meu caso significa valorizar a simplicidade; aprendi a reconhecer os momentos felizes quando eles acontecem e não depois, como era no passado. Parece pouco, mas não é. Esse foi o lado em que mudei para melhor.
A vida pode ser boa em qualquer idade, e ter conseguido superar as tristezas que ela me trouxe faz bem à minha alma. Não que elas tenham sido esquecidas, mas a maturidade me fez ver que elas fazem parte da vida e que a vida merece ser vivida como se morde uma manga madura, como dizia meu pai. Hoje me dou quase todos os direitos, até porque o tempo agora é mais curto, e não se deve desperdiçá-lo com nada que não valha a pena. Meus amigos são em menor número mas mais bem escolhidos; tenho muito prazer em ficar sozinha e não preciso mais fazer concessões. Mas, como nada é perfeito, confesso que existem momentos - raros, felizmente - em que preferia estar mal acompanhada do que só. Nunca mais namorei ninguém, o que é uma pena; não há nada melhor do que acordar no meio da noite e ter o homem que você ama dormindo a seu lado; mas é preciso escolher a liberdade ou um homem, e a minha escolha foi feita há muito tempo. Se não tenho medo de morrer sozinha? A gente nasce e morre só, isso é elementar."

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