Sunday, November 04, 2007

Selling the drama

A única coisa que eu posso dizer a respeito do que transcrevo abaixo é EU QUERIA TER ESCRITO ISSO. E poderia, se tivesse talento. Porque a situação é rigorosamente a mesma.
Mas não fui eu. É Tati Bernardi, as usual.


Versos x versos

Ao lado do meu computador tem uma taça de vinho e uma água de coco em caixinha. Abro a página em branco e me pergunto: será que eu volto, ou deixo assim, como está? Será que quero voltar a me expor, ou deixo assim, no mistério? Adoro a escancarada e adoro a que faz as malas e some de vista. Adoro e detesto as duas.
Minha TV ligada em filme com alguma sacanagem e meu iPod tocando Nina Simone. No chão tenho o jornal do dia e uma bermuda que não é minha. Nem do dia.
Os outros são feitos de casca, penso enquanto vou me despelando até não sobrar nada porque não sei exatamente o que sobra quando não estou atuando. Quando sou eu mesma, sou a melhor atriz que já conheci. Quando não penso sobre ser algo, merecia um Oscar.
Aí ele chega, tão lindo. E vai embora, tão feio. E liga, tão bobo. E some, tão especial. E eu morro, ainda que não ligue a mínima. E eu não tô nem aí, ainda que pense o tempo todo em não estar nem aí. E quanto mais eu abro tudo, mais me fecho. E sigo intacta, ainda que toda esburacada. E tenho a plena certeza de que cometo o maior erro do ano, ainda que eu não duvide de que todos os acertos são mesmo feitos assim: quando a loucura nos vence de alguma forma.
Depois, no dia seguinte, lá vem a ressaca. Sempre. Adoro minhas dancinhas e gracinhas e loucurinhas. Mas no dia seguinte acordo e me pergunto: por que é que você não faz cara de paisagem e permanece fina e permanece intocável? Por que é que você não consegue ser difícil, charmosa e blasé? E todo mundo ri, mas ninguém me leva a sério. Mas será que quero? Mas será que alguém leva alguma coisa a sério? Eu queria me levar menos a sério.
Um milhão de amigos e chorando sozinha no carro. Mas no meu apê de 40 metros quadrados só cabe eu mesma. Ainda bem. A coisa que eu menos queria era alguém aqui, agora, me vendo chorar porque não tem ninguém aqui, agora.
E aí o Don Juan de saias dorme de pijama cor-de-rosa. Não amei ninguém hoje, mas ri bastante. E amanhã vou acordar num tremendo mau humor e morrendo de nojo das pessoas que amam alguém só pra passar o tempo. E amanhã vou querer acordar depois de dez anos ou há dez anos. E vou querer congelar na vida de agora, que acontece mais do que antes ou depois.
E vou ler esse texto e querer me esconder no pijama cor-de-rosa. Mas vou acabar publicando o que eu nunca deveria ter dito, como sempre. E pior do que uma mulher que fala o que pensa é uma que escreve.

1 Comments:

Blogger Anamein said...

somos duas que queriamos e poderiamos ter escrito isso, pela situaçao. E eu aqui na maior ressaca da semana seguinte... que é pior ainda que a do dia seguinte, quando ainda rolam umas endorfininhas salvadoras.

11:48 AM  

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