Thursday, March 22, 2007

Carry me on

E segue a série dos escritos alheios que me assustam. Novamente é Tati Bernardi.

"Acho tudo um grande porre. Um grandessíssimo porre. De vez em quando, no meio do porre, a gente arruma alguém pra fazer uma coceguinha no nosso coração. Mas aí, depois da coceguinha, a vida volta ainda mais tosca. E tudo volta um porre ainda maior.
Porque ninguém se mantém interessante ou mágico. Mas a gente espera, lá no fundo, perdido, soterrado e cansado, que a vida compense de alguma maneira. E a gente ganha dinheiro, compra roupa, aprende novas piadas, passa protetor labial. Só pra que a vida compense em algum momento. Só pra ganhar a coceguinha no coração. Coração burro, tadinho. Que preguiça desse coração burro.
E a pessoinha mortal e cheia de motivinhos legais pra ser feliz segue aprisionada por essa falta de alma. E minhas coisas vão se acumulando. E não há nada que eu possa fazer sem minha alma. A agenda vagabunda me espera, com datas, esperanças e meios de ganhar dinheiro. E eu sequer consigo virar a primeira página. E milhões de livros ganham silêncio. E músicas novas perdem meus buracos. E garotos falsos cognatos perdem meus buracos. E eu estou no escuro, com uma leve impressão de que preciso voltar para a vida, porque a vida está acumulando e depois eu não vou dar mais conta de ser eu. Mas que preguiça de ser esse eu aí. Esse ser cheio de vontades, certezas e vidas na ponta da caneta. Eu me espero como uma boneca murcha, ensacada pela minha falta de alma."

Ouch.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home