Se você pensa
Onde foi que erramos?
Erramos quando deixamos de conversar porque, ah, dá muito trabalho e o tempo é tão escasso.
Erramos quando decidimos que o silêncio no carro, nas tardes de domingo e nos jantares a dois, é algo mais do que normal depois da paixão inicial de encontros urgentes, de uma rosa inesperada, de saudades que chegam a doer.
Erramos porque o erro era a única desculpa que tínhamos para não cometermos um homicídio doloso do que nos restava. O erro é sempre melhor que o dolo, menos pesado para a nossa consciência. Afinal, todo mundo erra.
Erramos por aceitar o sexo burocrático, o beijo de sempre ao dizer boa noite, o pizza-delivery aos sábados, o tanto faz, o livro de auto-ajuda “como ser feliz no casamento – os homens são de marte e as mulheres são de vênus”.
Onde foi que erramos?
Erramos ao achar que trabalhar quatorze horas por dia é necessário, que vivemos para trabalhar e não o contrário, porque se não for assim, perdemos o emprego ou não somos promovidos a sub-gerente, do sub-encarregado do sub-empregado.
Erramos ao sacrificar noites e fins de semana, reuniões com os professores da escolinha dos filhos, vésperas de natal e viagens em família por uma maldita casa própria e uma aposentadoria polpuda. Erramos ao perder os melhores anos de nossas vidas por tudo isso, porque se não for assim, quem será por nós?
Erramos porque perdemos a fé em deus, porque deus, afinal, errou conosco.
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