Tuesday, May 01, 2007

I alone

Eu tava quase me esquecendo de reproduzir aqui, mais uma vez, o impagável Carpinejar.

Sozinha!, não solitária

Mulher não é reboque, não é complemento. Mulher é inteira mesmo que esteja ausente. Mulher não precisa de outro para afirmar que é ela.
Fui jantar sozinha, para acompanhar a refeição de um chef italiano. Meu marido não veio porque cuidava de nosso filho pequeno no hotel. Jantar chique, meia-luz, a suspeita começou na entrada. Ao procurar meu nome na lista, a jovem perguntou: - Espera alguém?
- Não, não espero ninguém.
- Vieste sozinha?
- Vim, algum problema?
Eu era o problema. Uma mulher sozinha sempre é um problema para o equilíbrio ecológico, uma ameaça à cadeia evolutiva da noite.
A dificuldade foi escolher uma mesa. A dificuldade mesmo foi andar pelas mesas com os convidados me olhando. Eles não me olhavam, eu me sentia olhada, esperava o olhar deles por antecipação e não conseguia responder a tempo. A maioria ficou sem retorno.
Sentei de canto. E percebi que não tinha muito assunto comigo. Fazia anos que não puxava assunto comigo. Minha conversa é monogâmica, meus pensamentos são solteiros.
Os homens não podem enxergar uma mulher sozinha que já querem seduzi-la. As mulheres não podem enxergar uma mulher sozinha que já ficam com pena.
Homens iniciavam gracejos que caberiam para qualquer uma. Qualquer uma é a mãe deles. Sei o que é uma cantada pela falta de criatividade. Homem pode vir sozinho que não é estranho, você reparou? É escolha, independência. Mulher sozinha é ausência de opção e incompetência, não conseguiu trazer sequer um homem junto.
Concluo que passei a noite me defendendo. Mulheres apontavam para aquela morena alta, que estava destoando entre dezenas de casais. Procuravam me entender, como se dependesse de compreensão. Estava caçando? Sim, caçando o cordeiro no meu prato, que não mostrava muita resistência empanado de mostarda e farofa.
O vinho serviu-me de amante. A bebida é amante de mulheres suspeitas como eu. Suspeitas por não estar com seu marido ou namorado. E ainda nos falam que os costumes evoluíram. O que me restava fazer se não beber para me sentir ocupada e aliviada da desconfiança?
Até o garçom vinha com mais freqüência. Até o garçom entendeu minha aflição. Um casal de conhecidos tentou me resgatar. Toda mulher sozinha é identificada como uma afogada. Uma suicida. Salvar de quê? Salvar de mim? Desejou que sentasse em sua mesa. Como se estivesse no lugar errado.
Toda mulher sozinha está no lugar errado, é o que se acredita. Eu escolhi o lugar, não se cogitou isso? Ou a solidão é errada? Um crime a solidão.
O senhor insistiu, confundindo a vontade com educação:
- A gente põe uma cadeira a mais em nossa mesa!
O convite migrou para mendicância. Colocar uma cadeira a mais é dizer que não era planejada e apertar os acomodados. Nunca diga que vai colocar uma cadeira a mais. É um favor. Mulher não depende de favor para existir. Nem de nenhum homem.

1 Comments:

Blogger Anamein said...

FAN TÁS TI CO

9:07 AM  

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