Friday, March 02, 2007

Some unholy war

Fazia tempo que eu não achava um título tão versátil como este, que vai servir para dois dos comentários do dia.

O primeiro:
preciso tirar meu site do ar com urgência. Por quê?
Porque eu simplesmente não tenho mais paciência pra algumas coisas.
Por exemplo, para os genealogistas de plantão que estão procurando seus descendentes - isso quando eles conseguem escrever "descendentes" sem assassinar nenhuma regra gramatical.
Um dia ainda vou responder para um deles dizendo que vá a um vidente qualquer, porque isso aqui não trata do futuro, filho, mas do passado. E, a respeito, hoje achei a mais bela citação, que resume tudo o que penso sobre o assunto desde que comecei a pesquisar:
"Parece-me poético saber aonde estava o meu sangue por estes velhos séculos, e em meio aos acontecimentos que dia a dia vão urdindo a história humana, onde se situaram esses antepassados que não previam os seus descendentes, como nós não prevemos os nossos".
Lindo, curto e grosso. É Cecilia Meireles.
Ou seja: desistam, caras. Se querem listas de nomes e datas, me esqueçam.

***
O segundo:
Comecei o dia disposta a dar o melhor de mim para que ele fosse digno da comemoração.
Hoje faz um ano que aportei por estas areias (e eu que ia dizer estes pagos, tsc tsc tsc).
Mas aí eu tô indo trabalhar, numa sexta-feira quente e comum de março, igualzinho a dois de março de dois mil e seis. Vejo pela janela do ônibus uma senhora fazendo uns gestos muito típicos na calçada. Era aquele pôr a mão no peito, como se estivesse passando mal, e a cara de consternação. E ela comentava alguma coisa com a moça que a acompanhava. E aí virou para a sua direita - ou seja, para a minha frente.
E aí eu também virei, dentro do ônibus, e vi.
Primeiro, a confusão. Aquele monte de gente parada, gente saindo se abanando, muitas outras senhoras com a mão no peito, como uma contrição coletiva.
Depois, a clareira no meio do povo. Uma bicicleta parada ao lado de um corpo estendido no chão. Mas estendido mesmo. Era uma senhorinha e eu, vendo o corpo daquele jeito, pensei que deviam estar esperando o atendimento.
Mas foi quando o ônibus passou que eu REALMENTE entendi.
Dizem que ela gritou antes do ônibus passar e ela cair, ou a ordem inversa disso. Duvido que tenha sido tiro, como alguns disseram.
Mas aquela cabeça pendida, os olhos mortiços e a poça da cor das minhas unhas não deixavam dúvidas. Ela não estava mais lá pra contar o que tinha acontecido de verdade.
É. Até que demorou pra eu ver algo assim por estas bandas. Feliz aniversário.

Ou, na versão curta e grossa:
Querido blog,
Hoje eu vi meu primeiro carioca morto nessa cidade de bárbaros, onde o suposto ônibus que atropela foge sem prestar assistência. Envelheço na cidade.

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