Sunday, July 29, 2007

Eu que não sei quase nada do mar

Descobri que não sei nada de mim

Praia de Copacabana, Rio de Janeiro. Manhã de domingo, oito horas.
Olho sozinha para os horizontes de chumbo. À direita, um forte, uma lembrança militar, um anúncio perdido de guerra. À esquerda, uma doce construção da natureza, um morro iluminado, uma vista para não se perder. E acima dos meus olhos, um céu de nuvens brancas se desmanchando por baixo do azul limpíssimo.
Tudo passa, até a tempestade. Mas às vezes custa demais a passar.

***
Procuro a areia, o ponto alto mas nem tão longe do mar.
Estendo o pano, são sete da manhã, faz frio, ele não me alcançará, é alto e está seco apesar dos dias chuvosos.
Sento. A umidade me lembra: é inverno, mesmo no trópico.
Abro a garrafa, de água quente e calorosa. Sirvo a cuia, reavivando um verde de há horas esquecido.
Não levo dez segundos para me lembrar que ele está ali.
Ele vem. E me lambe, me leva, me dá bom dia, me molha enquanto pode no meu traje moletom do inverno carioca.
Levanto, monto acampamento três metros mais para trás.
E nenhuma - nenhuma - outra onda veio sequer aos meus pés na hora e meia seguinte que passei ali, na cara do mar, ele me olhando, eu olhando ele, fundo a fundo de um verde que não se estranha, mas se desconhece.

***
Tão cansada, tão cansada.
De ciúmes, de confusão, de complicação, de culpa, de remorso.

***
Fui procurar por aquele barulho. Aquele que ninguém descreve além do interior das conchas que só falam a quem lhes ouve.
Aquele barulho de serenidade, de aconchego, de tranquilidade e acolhimento. Colo de mãe não é assim; é silencioso e terno, anuncia seu final e o retorno ao mundo real, terrível. Ele não. Ele não esconde que fica para sempre, em algum lugar, esperando pelo retorno. Para ele, não importa se somos grandes ou pequenos: o mar sempre nos espera cantando.

***
No meio disso tudo, enquanto pensava no que escrevo agora, não evitei.
Só uma tristeza fdp pra que a gente pense tanta merda.
"Mas o que foi que tu bebeu hoje?"
Parece cocaína, mas é só tristeza
Talvez tua cidade
Muitos temores nascem do cansaço e da solidão


***
E para além disso, nada.
Talvez a lembrança do menino tricolor que me acenou, lá pelas sete e meia, receoso que estava em terras cariocas de acenar para uma estranha com uma cuia na mão fazendo sinal de V. V não, dois de VICE-LÍDER.

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