Monday, December 31, 2007

The end

Quando eu comecei o Boletim da Carioca, tinha recém chegado no Rio de Janeiro. Nunca tinha pensado em ter um blog, mas acabei sucumbindo à idéia de escrever num lugar para que quem quisesse ter notícias minhas pudesse encontrá-las. Daí ser um boletim. E da cari-oca, da casa do homem branco. Era um repositório mesmo de notas sobre o que fazia por aqui enquanto não se sabia o que ia ser da minha vida.
Mas no meio do caminho, o rumo das coisas foi mudando. E a cara do blog também. E teve gente que começou a me dizer que gostava do que eu escrevia, e todas aquelas coisas que só saem nos dados do destino.
E eis que esse nome não me serve mais. Essa cara não me serve mais. Não estou mais dando notícias. Foi um bom aprendizado, um bom exercício. Mais de mil posts, incontáveis sinapses, o esforço de tentar organizar em palavras o que passava nesta cachola confusa e neste tolo coração.
Então, acabou-se. Fui. Para onde? Descubram, ou perguntem.
Adiós.

Money, money, money

Mas pra que é mesmo que eu ponho minhas contas em débito automático se a senhoria faz questão de ir pagá-las quando estou viajando?

Sunday, December 30, 2007

Reaching horizons

Nestes dias de contagem regressiva, acabei por dar uma atençãozinha especial aos meus velhos alfarrábios - aquelas velhas agendas coloridas onde a adolescência fez o favor de ficar eternizada, para meu olhar espantado que vê como a gente consegue ser ridículo quando é espontâneo, jovem e ingênuo.
Mas estou lá, inteirinha. Lembrando para esta eu de hoje em dia quando foi que cada evento ocorreu, com datas, horas, locais e cores. Se foi há doze ou há sete anos, no quintal de casa ou no balcão do bar, não faz diferença: a nota está lá, prestando contas da minha vidinha dos 14 aos 21. E consegui fazer uma bela coleção de aforismos, citações, pensamentos, máximas, chamem do que quiserem.
Dentre elas, uma de um dos meus livros favoritos que a cada releitura me parece ainda mais especial. O livro é do Marcelo Carneiro da Cunha e chama-se "Românticos", e não é brilhante, não é uma obra-prima, mas começa com uma epígrafe brilhante do Hal Hartley e tem várias pérolas. A epígrafe é "Não existe romance, não existe aventura. Existem apenas desejos e problemas".
No dia de Natal, eu acho, fomos brindados com a exibição d'"O Advogado do Diabo", que tem uma fala brilhante da Charlize Theron que por algum motivo misterioso nunca tinha me chamado a atenção - além da sensacional "Vanity... definitely my favourite sin" do nosso John Milton. Charlize diz, e me perdoem pela falta do original, algo como "Pior que não ter um pai foi ter o meu".
Também os mais próximos estão presentes nos meus apontamentos. Não sei de onde tirei, mas um dia meu amigo Träsel deve ter escrito, possivelmente num COL qualquer: "Feche os olhos: você está só".
E por último, já que pretendo um dia desses - quando meu apartamento explodir pelo excesso de peso, eu tiver de dormir no chão ou pular por sobre pilhas de livros e dvds, ou finalmente me mudar para um lugar com espaço suficiente para uma colecionadora - compilar todas as minhas grandes pérolas, aí vai uma que me define com perfeição - a mim e a outras night owls. Vai daí, Virginia M. Almeida:
Eu nasci para ter horários de refeição 6 horas mais tarde do que o convencional. Na verdade, nasci para olhar a madrugada, assustada, lá pelas 3 horas da manhã, e sentir o cheiro de sono da população. Eu e alguns outros mais.
Meu coração é eterno desassossego. Meu olhar, inquieto. E sou livre pela metade: não sou livre de mim, de mim, que me torturo, que me disfarço, me critico e me adoro.

Learning to live

Brabo é chegar sempre nesse clima de balanço.
Em 2007 aprendi (ou reaprendi, ou reforcei) que...
viver é a coisa mais solitária que há. Por mais social que a experiência seja, a sensação é sempre vivida só. Não há palavra, mímica, tradução para o que se sente e se vive a cada momento. E que nem todo mundo entende isso.
Amizades são como vinhos: algumas não precisam de guarda, outras independem da cave onde estão para amadurecer e desenvolver - e ficam lá quietinhas anos e anos antes de se tirar a rolha. Mas todas merecem consumo e fruição. Isso tem tudo a ver com outro aprendizado:
o de que proximidade não tem nada a ver com geografia. Empatia, cumplicidade, compreensão, independem até mesmo de diálogo. Às vezes é tudo muito maior do que isso. Talvez seja um lance transcendental e inexplicável mesmo.
Aprendi também que estar em análise pode prescindir de um analista.
E que a gente marca as pessoas mais inesperadas, dos jeitos mais inusitados possíveis. E que mais dia, menos dia, numa dessas voltas que o mundo dá, elas vão aparecer e nos dizer como é que foi que aconteceu. E que quem planta, colhe. E que as voltas do mundo têm sempre as cores que Dalí escolhe.
Aprendi que até os lugares têm prazo de validade.
Que às vezes é necessário ligar o botão de foda-se.
Que não dá pra fugir do que a gente é, ou foi. E que na falta de irmãos que sirvam como testemunhas da nossa história, os amigos são mesmo os irmãos que escolhemos.
Aprendi que é importante manter nossos registros, mas não é bom que eles não façam parte da gente o tempo todo. Senão, a hora de encará-los fica (mais) melancólica do que poderia ser.
Mas como tudo isso é meu aprendizado, meu solitário aprendizado, de nada adianta eu ficar aqui tentando expressá-lo. Aprendi muito, mas só eu sei quanto. E sei muito bem o papel do mundo nisso.

Good time

O saco de acontecerem coisas boas é que a gente ou frustra a expectativa de que elas fossem ruins ou entra numas de se frustrar porque elas não vão acontecer de novo.
Ouvir Arc Angels em horas improváveis é uma dessas coisas boas.

Boa sorte

De volta à Baía, achando que tinha saído do Forno Alegre...


Aceitando a boa sorte

O 10 de Ouros emerge do Tarot como arcano conselheiro para este momento de sua vida, Luciana. A idéia deste arcano é clara: chegou o momento de gozar da boa fortuna, que resulta não da sorte, mas do esforço empreendido. Não se culpe por conseguir coisas que outras pessoas queridas não conseguiram. Não devemos nos medir pelos outros, mas aceitar o nosso próprio sucesso e fazer com que este sucesso sirva de exemplo para os demais. Saiba exercitar seu senso de abundância e você terá diversas oportunidades para distribuir generosidade pelo mundo, multiplicando a felicidade obtida. Há momento em que a sorte se manifesta. Aceite-a, simplesmente, sem culpas ou excesso de filosofias!

Conselho: Multiplique a felicidade obtida.

Monday, December 24, 2007

Gaúcho de Passo Fundo

Eu já tinha visto uma palestra do Airton Ortiz no congresso de genealogia, em setembro. Nessa em especial, ele falava sobre a viagem que fez seguindo os pontos de descobertas evolutivas da humanidade, desde o Australopitecus africano até a nossa Luzia mineira, a primeira brasileira. Mas não sosseguei enquanto não pus os dedinhos no livro: "Na Trilha da Humanidade". Das várias pérolas, por enquanto a mais pândega e genial pra mim é esta:

No Quênia vivem 70 tribos e outras tantas na Etiópia. Nos hotéis de beira de estrada não perguntam pela nacionalidade, claro, mas pela tribo. Ao preencher a ficha no hotel em Noyale, no local onde deveria informar minha tribo, coloquei "gaúcho". A recepcionista, ao conferir os dados, curiosa, perguntou se éramos nômades. Seminômades, respondi. E lhe expliquei:
- Moramos na planície no outono e na primavera. Mas no verão nos mudamos para a beira do mar, onde adoramos o sol, embriagamo-nos com uma bebida fermentada a partir de cevada e comemos carne de gado quase crua, apenas tostada diretamente no fogo. No inverno, muitos de nós se mudam para as montanhas, onde adoram o fogo, tomam uma bebida fermentada a partir da uva e comem carne de galinha com as mãos.
Pela sua cara, acho que nos achou bárbaros demais para os padrões africanos.

Saturday, December 22, 2007

Candelara

Now I understand the violence

Ou não. Porque essa é uma coisa que eu nunca vou entender.


(tal qual a gengiva que formiga depois do grande choro, a minha também sente até agora a carne rasgando e o gosto do sangue)
O soco.
O olho vazio.


Creio que toda pessoa exposta a um alto grau de violência direta desenvolve um desses tipos de comportamento: ou a pessoa desenvolve um horror fóbico de qualquer movimento que lembre violência e precisa de tratamento, ou a pessoa aprende a conviver com isso, ou toma gosto pela coisa - e precisa mais do que todos de um tratamento sério. Neste caso, eu me poupo de conviver com esse tipo de gente.
Não sei brigar. Não quero saber. Não quero estar perto de gente que acha legal andar com um soco inglês ou uma katana na rua. Odeio a simples vibração de uma voz alterada. E nunca, NUNCA mais vou permitir que alguém seja grosseiro, desrespeitoso ou me machuque de graça nesse mundo. Esse tipo de coisa tem consequências, nem que seja o meu mais profundo desprezo. Para sempre.

Thursday, December 20, 2007

One headlight

Tava até com saudades dessa música.

(e o destino me brinda com ela pela segunda vez em dois dias)

Rezo por nós

por nós e por todas as alminhas perdidas do afeto desse mundo.

***
Comentário breve sobre o evento de ontem:
show do Nenhum no RS é outros quinhentos.
Com direito a participação especial do genuíno espírito galarino pairando no ar.

Wednesday, December 19, 2007

Fairy tale

Aconteceu de novo.
Me apaixonei pela bilionésima vez pela mesma pessoa. "Pessoa" não é o termo. Pela mesma persona, aí sim.
Ontem foi a quarta ou quinta vez em que saí de casa pra ver André Matos e sua trupe (seja lá com que nome, Angra, Shaman ou simplesmente "e banda") - o que fez dele o cara que mais vezes levou meus trocados em shows, perdendo apenas para o Nenhum de Nós que é a atração da noite de hoje. Tomei o caldo do ano, cheguei no Opinião que nem um pinto molhado, literalmente pingando e fazendo "bloch, bloch" dentro do sapato, fiquei uma hora e meia plantada esperando pelo primeiro show da noite e quase tive uma hipotermia de passar tanto tempo vestida como se fosse uma sobrevivente do Titanic.
Mas passado o show da Hibria - oh que bela surpresa! baita banda - entra a banda do mocinho e, por último, o mocinho. Oh meu Deus. Quem roubou o ar à minha volta?
Não é que ele seja um Gianechinni. Tenho senso estético o suficiente pra perceber a diferença entre eles. Só que ele entra no palco com uma camisa branca perfeitamente engomada, coberta por um sobretudo de corte impecável e forro branco. E aquele cabelo que qualquer mulher pediu a Deus. E a voz. E a postura. E aquela cara de maestro que sabe a que veio.
É isso. O cara PODE. E sabe que pode. E está cagando para a insistente microfonia, o som mal equalizado, o bar meio vazio e a platéia fiel pero meio desanimada. O fdp sabe que está no domínio da coisa toda. Que se aquele povo está lá, é para vê-lo, para ouvi-lo, para se embriagar das notas que saíram da sua batuta, dos seus dedos, da sua própria criação.
Ele pode tanto que se dá ao luxo de recrutar pra baterista um pirralho. E anotem esse nome: Eloy Casagrande. Porque o guri ARREBENTA. Nosso leadman deve ter-se lembrado do seu início, também aos dezesseis, lá no Viper. Deve ter se encantado com o peso do braço do guri, com a disposição juvenil, com a pegada.
Mas nem esse guri, nem os Mariutti - que seguem firmes e fortes a tradição brasileira de irmãos talentosos no metal, nem Fabio Ribeiro, nem o novo guitarman que é excelente mas cujo nome ainda não gravei, nem ninguém foi capaz de me impedir de me apaixonar novamente pelo poder de André Matos. Tão impagável em palco e tão gente fina fora dele que teve a gentileza de oferecer uma carona para esta que vos escreve, há nove ou dez anos atrás, na primeira vez em que fui ver a persona ao vivo.
Tentei, mas segui os conselhos União e a boa e velha "Um certo alguém". É melhor não resistir e se entregar. Já era.

Monday, December 17, 2007

I've got to see you again

Resolvi levar a sério o conselho dos saquinhos de açúcar União de Paraty que, três ou quatro vezes em dois dias, me disseram para me apaixonar mais vezes, nem que seja pela mesma pessoa.
E me apaixonei.
Por Paraty, de novo.
Pelas ruazinhas lamacentas, pela chuva que caiu inclemente no primeiro dia, pelo sol e pelo céu de brigadeiro do segundo dia, pelo Paraty 33 e pelo MELHOR RISOTO da minha vida, pelo mar verde e pelas ilhas, pelos peixinhos, pela bagunça do barco, pela gruta escondida, pela cachaçaria e seu atendente gracinha...
e pelo café delicioso que me acolheu imunda de sal e mar com Norah Jones cantando, bálsamo para os meus ouvidos.
Fotos da odisséia em seguida.

A thousand miles

Esse mundo é uma bola, mesmo.
Quem diria que um dia eu teria um blog e que postaria mil pensamentos.
Mil.
É um sinal.