Monday, August 28, 2006

Time machine

Novela é brabo. Manoel Carlos é brabo.
Quando eu vi aquele homem de joelhos na frente da filha, fragilizado e bêbado, foi como se eu entrasse numa cápsula do tempo, direto pra 13 anos atrás.

Carioca da Gema

Pois é.
Não é todo dia que a gente dá de cara com a Beth Carvalho sentada num boteco furreca do Leblon, pouco mais de meia noite de domingo.

Sunday, August 27, 2006

The Power of Goodbye

Continuo me assustando com as coincidências da vida. Desta vez, o susto vem de novo do Carpinejar. Estou quase me perguntando também se ele existe de verdade. Olha isso:

Recomeçar

Casar cedo é como um rio que se retira para a outra margem, para alguma aldeia quieta e verdorosa, com crianças a fazer bolas de vento. A imensidão íntima coberta da forragem do limo. A limpeza da varanda. A mesa da janela e os passarinhos adivinhando o lugar das migalhas.

Deseja-se passar toda a vida com o amor protegido, confiável, definitivo como o domingo preguiçoso. Não se prepara um plano alternativo, o casamento aumenta nossa idade.

Mas casamentos terminam, e como voltar do exílio voluntário? Como ser jovem novamente?

O corpo não é rijo, os seios estão estrábicos, a cintura aberta, as rugas e as varizes se desesperam com o verão. O amor perdoava o corpo. A companhia perdoava o tempo do meu corpo porque suas mãos masculinas faziam parte dele.

O corpo é mais grave isolado, mais duro, menos meu. Mais exposto às denúncias do espelho. Sem um fiador que assegure a beleza da convivência.

A impressão é que não se perdeu o marido, perdeu-se a mulher em si capaz de conquistá-lo. Perdeu-se o encantamento, a inconseqüência, o que fazia aproximar-me das pessoas sem desconfiança. Se eu me casei com dezoito anos e estou com trinta e dois, agora separada, agora com filho, como me curar de um desamor? Como retomar as festas e não ostentar a caça? Ele era meu colega de faculdade, havia a identificação, a sintonia, as afinidades em busca do diploma. Bastava aparecer e estávamos na mesma sala. A juventude fazia amigos com facilidade. Toda manhã na mesma aula. Havia tempo para se conhecer. Havia futuro. E agora? Quem me dará igual chance? Em uma noite, não consigo me mostrar. Não consigo convencer. Não consigo dizer tudo o que não quero repetir e o que quero melhorar nos quatorze anos de casamento. Não consigo manter-me atenta e interessada numa conversa tediosa. Minha paciência é para a nudez. Sozinha, não poderei encontrar um olhar cúmplice para sussurrar: "vamos embora?". Cheia de insegurança, precisarei tomar as decisões e soar independente.

Eu ainda não me recuperei da frustração do casamento. Não que tenha sido ruim, foi bom enquanto acordados. Acabou e ainda me resta a dúvida se acabou ou desistimos de nos esforçar. Ou se acostumamos a dormir em camas separadas e sacrificamos a vontade mútua de anoitecer. Ele não mais conhecia o que vestia para ir trabalhar. Confundia minhas roupas velhas com as novas. A pior traição é a distância da cordialidade. A distância de uma perna a outra das palavras.

Não posso voltar atrás, sobrava razão em me despedir. As oliveiras acenavam e não me diziam mais respeito. Esperava que ele voltasse diferente, ansioso, redimido de suas dívidas comigo, pronto a reiniciar. Ele só foi, chorou e foi, e não mais me procurou. Como se eu precisasse fazer o trabalho sujo por ele. Nem se separar ele conseguiu. Eu tive que me separar de mim no lugar dele. Ele não soube me reconquistar, muito menos terminar.

Estou de volta mais cética, mais pessimista. Para amar, terei que reaver a fé. Fazer a mala e deixar a aldeia segura. Voltar à cidade grande da esperança. Não posso contar com as amigas casadas para sair. E não será fácil encontrar um homem que se dê bem com meu filho, que seja inteligente e humorado, que não me esqueça para falar unicamente de si.

Como seduzo? Desculpa a pergunta, é falta de treino. Como seduzir sem parecer grosseira e atirada? Como me seduzir, principalmente?

Ai que Saudades da Amélia

Essa é pra minha mãe ficar com muito orgulho de mim.
Passei os últimos vinte minutos limpando o fogão, esfregando com Veja Limpeza Pesada - que era só o que salvava a situação do pobrezinho.
Parece até outro fogão. Impecável. E com uma panela de massa de branquinho esfriando em cima, especialidade da casa convocada para o aniversário da semana.

Oh Happy Day

Hoje foi o McDia Feliz. Quem não foi, ano que vem vá e pelo menos compre um bigzinho. Nem que seja pra dar pro gurizinho da esquina.
Mas aí tirei a tarde pra passear sem compromisso, experimentar quinhentas mil roupas sem comprar nenhuma... e ter uma crise de riso histórica em plena Americanas. Tudo por causa de um porco, ou melhor, de um Leitãozinho. Chorei, tive dor de barriga, quase caí sentada no chão. Foi ótimo.
Depois: reencontros felizes em plena Copacabana, ao som do Mahler e sua Sinfonia dos Mil. Praia tapada de gente...
e chopezinho pra encerrar a fatura. Ave. Coisa boa é gente feliz em volta da gente.

Saturday, August 26, 2006

New Millenium

How can you keep your head and not go insane
If the only light at the end of the tunnel is another train?

É fácil.
Basta uma orientadora acenar com a possibilidade de defesa da dissertação em menos de 24 meses, dado o andamento da carroça.
Não sei se vai rolar, mas ia ser uma ótima.
Porque eu tô me sentindo grávida de nove meses, pesada e inchadona de tanto matutar. E olha que tenho, em princípio, mais dezoito meses de gestação pela frente.
Já pensou? É um megasuperultra elefante!!

The obvious child

Esse mundo tá perdido.
Quando dois (atenção: DOIS) juízes intimam uma criança de cinco anos para depor por causa de uma pedra lançada contra um veículo aos TRÊS ANOS de idade... e o MP acha tudo dentro da normalidade, pra não se criar uma situação de impunidade, às vezes eu penso se sou eu o ET.
Mas aí eu me lembro de que este mundo elegeu um boçal pra governar o país mais rico. Vejo na tevê os salários aumentados em 5000% a troco de liminares e sabe-se lá que presentinhos ao Judiciário. Assisto a propaganda eleitoral, repleta de idiotas fazendo uma população inteira de idiotas. Vejo guerra, bombardeio, gente mutilada, gente passando fome e fotógrafo ganhando prêmio clicando um urubu esperando uma criancinha africana morrer.
Ai, cacete.
Como diria uma boa amiga, vâmo bebê que vomitá é fácil.

Thursday, August 24, 2006

Imaginations from the other side

Alguém pode explicar por que diabos as pessoas da ficção são SEMPRE mais interessantes do que as de verdade?
Tipo: o Colin Farrell versão Miami Vice certamente é MUITO mais interessante do que o Colin Farrell versão by himself.
O Ferris Bueller era INFINITAMENTE mais interessante do que o Matthew Broderick.
Estendendo o exemplo para pessoas do nosso universo, então, a coisa fica muito pior.
E não estamos nem pensando em tipos idealizados de gente perfeita nem nada. Só acho que falta sal na vida de verdade. Sei lá. Tô meio chatinha e sonhadora.

Older

Aiai. Tô ficando velha.
Eu sou do tempo em que o Brasil tinha 25 Estados e Tocantins era só a parte norte de Goiás.
Sou do tempo em que ainda se discutia o nome do ruterfórdio e do dúbnio (que a gente achava que ia ficar hâhnio). Aliás, sou do tempo em que a tabela periódica TERMINAVA no hâhnio!
Sou do tempo em que o Atari era o máximo e só tinha o Master System quem era mooooooito descolado e cheio do dinheiro.
Sou do tempo do Pogo Bol, da Menina Flor, do Pequeno Pônei, das Chuquinhas, do gel com glitter de muitas cores.
Eu vi o Tancredo vivo. E me lembro de quando ele morreu.
Eu tentei ver o Halley mas não consegui.
Eu fiz segundo grau, e não ensino médio.
E agora sou também do tempo em que o sistema solar tinha nove planetas. Porque agora, o sistema solar termina em Netuno.
Mas podia ser pior. Eu podia ter pego a reforma ortográfica de 71, ter feito ginásio ou ter sido normalista, e ter acompanhado a separação de Mato Grosso também.

Wednesday, August 23, 2006

Sozinho

Uma vez um amigo especial - e que, apesar do tempo, mora no meu coração de maneira irremediável - me disse que quando mais precisou de mim eu não estive lá por ele.
Era um momento no qual eu realmente não podia estar. Pela distância, por não saber do que estava acontecendo. Eu não estive lá.
E agora, quinze pras cinco da manhã de uma quarta feira, eu sei o que ele sentiu.
Sei que não há culpados. Mas que dói, dói.

Crazy

O Seal é que estava coberto de razão.
We'll never gonna survive unless we get a little crazy.

Jornais

Quantos filhos esperaram a chegada de seus pais
Tantos deles não vieram Não chegaram nunca
A calçada não é casa, não é lar Não é nada
Nada mais do que um caminho que se passa
Tão estranho pra quem fica... pra quem fica
As palavras no asfalto, nessa vida são tão duras
O carinho não consola mas apenas alivia
A calçada não é cama Não é berço Não é nada
Nada mais nos faz humanos sem afeto
E o medo é um abraço tão distante de quem fica

Onde vai? Nós estamos de passagem
Onde vai? Onde a rua nos abriga
Onde vai? Estamos sempre de partida
Onde vai? Onde a rua nos abriga desse frio

As pessoas que se enrolam nos jornais não são mais notícia
Elas não esperam de um papel de duas cores mais que um pouco de calor
A calçada não é pai Não é mãe Não é nada
Nada mais do que um abrigo, um refúgio
Tão estranho pra quem passa... Pra quem passa

Eu

*Digitado ao som baixinho de Nei Lisboa e Nenhum de Nós, com um bourbon ao lado que ninguém aqui é de ferro.

Seguuuuuura peão, que este aqui é forte e longo. Foi escrito originalmente há uma hora no caderno do inconfessável, mas achei que ficou bom e que serve pra pôr aqui. Porque, caso ninguém tenha notado, só se expõe demais num blog quem não tem a menor idéia de pra que esse negócio serve. Mas quer saber? Dane-se. Aliás, dane-se é algo que tenho dito e feito bastante ultimamente. Lá vai. Quem não quiser, que não leia.

(pausa para Rima Rica/Frase Feita, que vale a pena e toca neste momento

Desculpe meu bem, se ontem te fiz chorar
Mas a vida é assim mesmo, não se pode exigir, pouco dá para esperar
Muito obrigada por tudo
Pelo teu suor, pelos teus gemidos
Espero que a minha estupidez cicatrize teus sentimentos feridos
Nasci e morro assim só, perdido no escuro dentro de mim
E vou cruzando o barro
Vou comendo pó
Até que chegue ao fim
Mas a força eu retiro, sugo feito vampiro
De saber que as estrelas também vivem sós
De um cigarro amaçado
De uma rua deserta
De outros que até eu
Posso sentir dó
Da menina de olhos grandes como a lua
De uma noite sentindo Tua carne crua
Dos bares, das festas
Dos vinhos, serestas
Das mentes infestas de podres horrores
De mil desamores
Do chopp das quatro
Desse louco mundo putrefato
Dessa grande peça de teatro)

De volta ao papel. Pra escrever sem fazer sentido, pra registrar, pra fazer hypomnemata ou não. Terapia, melhor dizendo.
Uma da manhã e eu concluo que não durmo no silêncio. Preciso da TV ligada, talvez pela ilusão de não estar sozinha. Como minha letrinha está bonitinha nesse momento. tão legível!
Mas como diria o Totonho, você tem medo do silêncio e do escuro. E a TV supre esses problemas. A cada cena as paredes mudam de cor e o quarto fica QUASE escuro...
Pensa, pensa, pensa. Vuuuuum ventoinhas a mil.
Curioso vai ser "comemorar" seis meses de vinda lá no pago. Que pago? Que piada. Pago no meio do asfalto e do Guaíba, onde já se viu.
Mas é isso. Seis meses. Bem-vinda à vida adulta.
Seis meses de uma procrastinação de leve pra refletir o suficiente pra esgotar tudo de vez. Talvez porque no fundo isso tudo seja mais profundo do que "só" uma separação. Tenho pensado nas coisas que me aconteceram desde que cheguei aqui. Nas pessoas, nos acolhimentos, nos elogios que tenho recebido até de estranhos.
E fica difícil de não achar que tem um Cristo de braços abertos por trás disso tudo. Dos telefonemas, das amizades, de todos os presentes que já ganhei. Não tem como não se sentir abençoada.
Ao mesmo tempo, fico me perguntando por que não pude viver tudo isso com ele. Por que essa repulsão entre a minha vida boa e a minha vida com ele?
São muitas perguntas e pouca resposta.
E quanto mais eu avanço na direção de achar que estou melhor agora, mais triste eu fico.
Fora a angústia de me sentir resgatando coisas, correndo atrás de prejuízos, aprendendo o que já devia saber, sabendo mais pra cada dia saber menos.
Sinto muita culpa, remorso, sei lá, de não ter aproveitado minha graduação. Na verdade, não sei até que ponto sou conscientemente culpada disso ou se devo atribuir aos meus 16 anos.
Ao mesmo tempo, agora me assusto ao perceber o quanto andei no meu próprio pensamento nestes seis meses. Mesmo que à custa de uma cada vez mais flagrante ignorância, me orgulho de mim. Acho que sou uma pessoa melhor hoje, embora mais e mais sozinha. Mesmo com amigos e novos irmãos, mesmo com essa acolhida, é difícil não se sentir sozinho. Até porque sou eu quem choro, que durmo às sete da manhã, que penso até a exaustão.
Embora sinta que a raiva parece passar, a mágoa aumenta a cada dia. Mágoa pela leviandade, pela desonestidade, pela privação do direito de poder extravasar tudo isso, pelo enxovalho da minha história, pela desistência, pela não-tentativa, pelo erro, pela decisão tomada há muito e não discutida. Pela cara-de-pau de dizer, no momento da separação, um "eu te amo". Pela dupla cara-de-pau de dizer a mesma coisa para outra pessoa, praticamente segundos depois. Pela insegurança de ter me tratado como um bibelô candidato a Buda num pedestal, me protegendo de tudo, inclusive do próprio desamor.
Pela privação consentida da minha vaidade. Pelo atual desrespeito para com a minha história com o meu legado - ou pelo menos pelo consentimento com o desrespeito.
Não sei se posso afirmar isso com clareza e exatidão, mas este é um dos anos mais difíceis da minha vida. Doloroso e intenso, proporcionado pela solidão, pela distância. Nunca me vi me vasculhando tanto. Talvez pra me achar de vez, pra não me perder mais de mim, pra me auto-afirmar.
Eu, que sou perfeccionista, neurastênica, auto-crítica, preguiçosa. Eu que me vi doente e descobri que não sei cuidar de mim. Eu que aprendi a fazer comida, a escolher carne, a pagar conta, fazer planilha. Eu que moro e me envergonho de morar sem a minha cara. Eu que sonho com a minha casa, pequena mas ampla, clara, iluminada, acolhedora. Eu que choro, que sou engraçada, que sou generosa, que sou irmãzinha. Eu que mendigo o afeto dos gatos dos outros. Eu que aprendi e aprendo Nietzsche, Foucault, Tarde, etc. etc. etc. Eu que vou pra praia, que tenho e uso biquíni em pleno agosto, que tomo chope, cerveja, cachaça, uísque, água e mate. Eu que sei pra que serve o alecrim e tomo anti-histamínico.
Eu tive uma boneca chamada Anita que era muito feinha, de pano e olhos fundos pretos de zumbizinho. Me lembro dela agora porque vejo o pago na tevê, e me sinto ignorante da história da minha terra, onde eu nasci, do lugar onde 150 anos antes de mim meus antepassados escolheram viver.
Eu que tenho medo, que não sei como vim parar aqui. Eu que me valho dos amigos pra me lembrar que eu jurava nunca sair de Porto Alegre. Eu que me sinto mais e mais tocada pelo acaso.
Eu que ando querendo ir à igreja, pra ouvir um pouco do silêncio sacro. Eu cansada, eu triste, eu alegre e satisfeita, eu feliz comigo mesmo que por breves momentos. Eu insegura, incerta do rumo das coisas e da vida há seis meses, e pelo tempo que vier. Eu à flor da pele, insone, sem fome, mais magra, mais ruiva, com menos cabelo e mais cor. Eu de salto alto e pé descalço. Em busca de sentido e de paz. Só isso.

Rio de Janeiro, madrugada de 23 de agosto de 2006.

Tuesday, August 22, 2006

Crazy

Esse período eleitoral é um perigo. Os loucos saem todos da casinha.
Aqui no Rio tem um débil mental que foi pra tevê dizer que só os hipócritas não concordam que bandido bom é bandido morto. Eu hein?

Monday, August 21, 2006

Another brick in the wall

Assisti hoje a mais bela defesa de dissertação que já vi.
Era de uma orientanda de pós-graduação em Educação, e versava sobre Nietzsche e a educação, especificamente sobre educação para criação e não para a repetição.
A moça, calma e no controle, estava claramente apaixonada pelo tema. Tão apaixonada que conseguiu um doutorado na Inglaterra. E foi aprovada com louvor e recomendação de publicação.
E entendo todas as angústias dela. Porque eu também, certa vez, pedi que meus alunos pensassem no sentido das coisas que liam e não fui compreendida. Eu também defendi a educação freireana, dialética, dialógica, e fui encarada como um et. Eu também tentei levar em conta a vida e as experiências prévias de cada um numa co-construção e só recebi caras estranhas que esperavam provas de xizinho.
Me assusta pensar na graduação brasileira como um pós-segundo grau (ai como eu tô velha. onde lê-se segundo grau, leia-se nível médio). Porque é isso que é, mesmo. A educação superior no Brasil é uma continuação do nível médio. Ficamos reproduzindo comportamentos colegiais enquanto deveríamos estar formando pensadores, especialistas, técnicos de alto nível. Quando muito conseguimos formar alguém que usa uma crase com competência!
E aí chega um professor com uma proposta diferente e é rechaçado. Porque é mais cômodo e mais conhecido ficar se matando de estudar pra uma prova f*dida no final do semestre do que pensar sobre o que está acontecendo fora das grades do condomínio - e, heresia das heresias, refletir e produzir sobre o assunto.
Então, caros e caras, a situação pra mim é feia. Que pena. Continuamos moendo cabeças em nome da comodidade.

Blessed

Coisas estranhas e do bem acontecem na baía de Guanabara.
Cá estou, vendo mails e talz, e toca o telefone.
Alguém que eu não conheço quer falar comigo.
É uma senhora, amiga de décadas de meu avô, que disse a ela que eu estava dando um tempo por aqui. E ela me ligou para me dar seu telefone e se colocar à minha disposição, me abençoar, ficar com Deus, etc etc etc.
Eu hein? Pode ser melhor do que isso? Amigos pulando no meu colo e no meu telefone?
Culpa dele, lá de braços abertos.

Find my baby

Baixei o Google Earth porque tinha ouvido falar que a imagem de Porto Alegre tinha melhorado.
E, de fato, melhorou MOOOOITO.
Inclusive sei que foi capturada num sábado à tarde.
Linda, linda.

Fênix

Eis que me empolguei com a Casa das Sete Mulheres e baixei a trilha sonora, que é beeem legal.
Interessante como tem música em italiano - inclusive uma da Zizi Possi, daquela época per amore. As épicas, incluindo o tema da abertura, são ótimas.
Mas alguém PELAMORDEDEUS avisa o Jorge Vercilo que a noite não faz NAISCER luz nenhuma na escuridão?!?

***
Ah, sim. Reparem na hora.
Voltei ao (a)normal, parece. Três de la mañana e estou aqui, ventoinhas no máximo.

Sunday, August 20, 2006

Whiskey in the Jar

Ou: da arte de procrastinar.
Ao invés de ler o livro de 200 páginas in english que preciso pra amanhã, cá estou catando receitas de drinques na internet.
Aí caí na página da Stock que tem um testezinho bestinha mas divertido. Diga-me o que bebes e te direi quem és. Ó:
Whisky: Esta bebida original de terras Saxônicas vem, através dos séculos, confirmando o perfil da pessoa elegante e de bom gosto.A exemplo do galês, tipicamente metódico e de sangue frio, o consumidor de whisky caracteriza-se por ser maduro, determinado e, por vezes, introspectivo. Embora seja uma pessoa de pouca conversa, este se reserva para diálogos consistentes e sinceros. Se diferencia por preferir relacionamentos firmes e duradouros.
Sou eu!
Mas também sou assim, ó:
O apreciador do Chopp ou de Cerveja é na verdade um apreciador de um bom papo, de conversa agradável e descompromissada, daí sua fama de excelente ouvinte. Para apreciar tal bebida é preciso ter calma, tranquilidade e um certo sedentarismo que todo bom apreciador adquire. Seu amor ao comodismo acaba por despertar-lhe um forte sentimento de congraçamento com a família, a casa e os amigos. Procura sempre viver longe das preocupações, encarando a vida com bom humor e otimismo sem comprometer o seu lado irônico.
UUUEEEEBAS!

Ai meu nariz

Quem precisa de previsão do tempo quando se tem um nariz rinítico, não é mesmo?

Angélica

Fui ver "Zuzu Angel".
O filme é pesado, como todo filme que tem tortura. A Patrícia Pillar está SOBERBA. E o filme é bem melhor do que andam dizendo por aí. Li críticas até ao som do filme, que são completamente injustas. Recomendo um cotonete a este crítico.
Mas algumas coisas óbvias continuam chamando a atenção. Jesus, como é que as pessoas podem ser tão cruéis, hipócritas, más, etc etc etc com as outras? Nada, NADA justifica tortura. Que época maldita que este país viveu - e continua pagando até hoje por ela, basta olhar onde anda a nossa educação.
A título de curiosidade: a víuva do Stuart Angel, Sonia, era gaúcha de Santiago, conterrânea de Caio F. E pagou os pecados dela e de toda uma virtual família até a nonagésima geração.
E tem gente que acha que os milicos são a solução.

Saturday, August 19, 2006

True

Transcrevo, espero que com a anuência da autora, pela verdade absoluta contida:

às vezes a gente se depara com dias felizes na vida, com momentos maravilhosos e com pessoas encantadoras.
é para isso mesmo, a vida é para a gente ser feliz (como prioridade) e para acolhermos os outros, sermos sensíveis às necessidades dos outros, termos empatia e nos pormos no lugar do outro . só assim a gente cresce: dando e sendo muuuito generoso.
vc já pensou como é triste como é ver uma pessoa estudada, capaz, inteligente e sem a menor noção do outro?

Não posto aqui as minhas intervenções na conversa, mas digo de antemão: chorei (ver "Lágrimas e Chuva" logo abaixo").
E, pasmem, pela primeira vez na minha vida, me sinto ligada a algum tipo de fé cristã, espiritual, whatever. Por estas coisas que tenho lido e ouvido e por tudo o que me tem acontecido aqui, toda vez que olho pro Cristo lá, de braços abertos, abano. E me sinto abençoada 24 horas por dia.
Pelos presentes: amigos especialíssimos, colegas, pessoas que dia a dia me dão mostras incondicionais de valor nesta vida. E que me mostram também o meu valor.
Pelas pequeninas jóias com que o Cristo me brinda: o tio da cantina e a moça da lavanderia, que me vê duas vezes por mês mas repara no meu cabelo e elogia.
Pelo alívio de poder estar em casa sozinha ou pelo prazer de estar na rua acompanhada. Pela graça de poder me sentir triste e chorar sem ninguém por perto, ou pela vontade de ficar feliz e ir tomar chope pra comemorar, pelos amigos que me acompanham e me ouvem/lêem, e guentam essa fase pré-fazedora de tese no osso. Vai piorar, meus caros. E eu vou até entender quem me mandar pastar.
Mas não mandem, tá?

Nothing really matters

Esse título é só pela pura falta de imaginação.
Ventoinhas a mil, cabeça doendo, yadda yadda yadda.
E um chato no Jô.
E presentes, e um bolo espetacular me olhando aqui na mesa.
Dia abafado, muuuuito tempo perdido no trânsito.
Dá nisso. A gente não pensa direito. E passa a noite de sexta socado em casa.

Friday, August 18, 2006

The Principles of Lust

O Orkut diz:
Seus princípios valem mais para você do que dinheiro ou sucesso
Mazááá guri...

Sitting, waiting, wishing

Brabo mesmo é que a gente não consegue não esperar nada dos outros, não ter expectativas, não esperar correspondências.
Brabo é que a gente espera coisas mínimas: respeito, educação, sinceridade, lealdade, consideração.
Brabo é que a gente, em certo ponto, se sente um banana por levar essas coisas a sério.
Mas acho que mais brabo ainda é a gente ficar triste pelos outros não serem assim. Principalmente quando somos nós os prejudicados. Infelizmente, não sou a Madre Tereza e não ofereço a outra face.
O que nos leva a outras reflexões bizarras e muito típicas das três da manhã - ou de um belo divã que nos acolha. Fico pensando muito tempo sobre como, meu Deus, como é que eu fui investir tanto em coisas e pessoas tão desnecessárias? E cínicas, mentirosas, levianas? E como se livrar de vínculos de afeto tão grandes com coisas tão pequenas? É necessário se livrar desses vínculos? O que fazer com isso?
Ao mesmo tempo: poxa vida, a vida tem mesmo suas compensações e cá estou.
Blá, blá, blá. Como vocês podem ver, as ventoinhas aqui estão a mil. E dêem graças a Deus que não estou aqui discutindo identidade e germanidade - ainda. Esperem pela fase fazedora de tese que vocês vão ver.

A Saga dos Pampas

Gozado como as coisas acontecem na vida.
Justamente nesse momento em que olho mais e mais pra essa coisa da identidade regional, do gaúcho, yadda yadda yadda, me aparece de novo A Casa das Sete Mulheres.
Côsa lôca de especial.
Porque além de cenários maravilhosos, tem homens maravilhosos, mulheres maravilhosas, uma fidelidade histórica bem legal, tudo lindo. Até dá pra perdoar a síndrome de James Bond, que fez com que os Aparados sejam coladinhos ao Taim, praticamente.
E tenho me divertido em especial com a força tremenda que ash cariocash fizeram pra compor aquele sotaque cheio de tus e locuções pampianas. Mas o mais interessante: vamos para o quarto capítulo e até agora não houve NENHUM BAH.
Alguém da etimologia a postos pra explicar? Será que o bah surgiu depois? Questão interessante...

Hoje eu tô feliz

Não, não matei o presidente, mas estou bastante feliz e satisfeita.
Acho que hoje sou uma pessoa melhor do que já fui.
Casualmente, chegou hoje a Vida Simples que fala um pouco sobre isso: a chamada de capa é "Onde mora a felicidade".
O tio da cantina hoje me fez um elogio muito simples e sincero. Me disse que eu sorrio com os olhos também.
E por fim fui elogiada pela minha orientadora, que ficou muito satisfeita com a minha entrevista e com a minha transcrição.
Muito bom isso. Ver um esforço reconhecido é algo maravilhoso e que eu durante três anos achei que não ia ver nunca!
Só acho realmente complicado que a gente precise sair do seu lugar, se mexer loooongamente, para que isso aconteça. Mas enfim, por outro lado é bom ver que os investimentos dão retorno.
Me brindei com uma viagem de ônibus pela cidade. Prazeres simples...

Thursday, August 17, 2006

É uma partida de futebol

Como não sou uma gremista recalcada nem nada, registro aqui meus parabéns aos colorados.
E lamento que as torcidas organizadas sejam um mal terrível para o futebol brasileiro, que empestam os jogos com suas impertinências insuportáveis e prejudicam seus clubes com atitudes idiotas.
Boa viagem ao Japão, a gente já foi DUAS VEZES e é bem legal! (hehehe...)

Wednesday, August 16, 2006

Mea culpa

Pois é. Recomeçaram as aulas e, portanto, recomeça um certo ritmo que é até saudável para a minha sanidade mental. Porque esse negócio de estar de varde com quinhentas coisas pra fazer... já vi tudo: viro uma culpada incorrigível.
Porque sei que tenho aquela pilha monstruosa de coisas pra ler, coisas importantes. Sei que não posso deixar de lado o trabalho. Sei que tenho (mais) duas entrevistas pra transcrever, três, portanto, pra analisar, uma apresentação de simpósio pra bolar, um seminário cuja bibliografia preciso revisar, tenho que ligar pra Light, preparar meu ouvido pra um pré-simpósio imperdível em inglês, yadda yadda yadda.
Mas eu SEMPRE posso empurrar tudo com a barriga e ficar patifando na cama até as três da tarde. Até pra praia ando preguiçosa, onde é que já se viu isso? Preguiça de caminhar duas quadras e colocar calmamente uma cadeira na areia morna, debaixo do sol.
E tudo isso obviamente não é sem contra-partida. Meus ombros ficaram imprestáveis, tamanho o peso da culpa sobre eles. A casa badernadinha, sujinha, tudo meio fora de seu lugar, precisando duma atenção, e eu lá, dando tratos à NADA. Às novelas e à tv no volume mínimo, pra ser mais exata. Dando tratos a filme, chopinho, planos de viagem, joguinho de computador que só faz esculhambar com meu braço.
Mas com o início de tudo de novo, há de voltar ao normal. Estou ansiosa para virar uma fazedora de tese clássica, daqueles compulsivos, anti-sociais, neuróticos, insuportáveis. Pelo menos assim a culpa é minimamente justificada.

Tuesday, August 15, 2006

Lágrimas e Chuva

Olha, a chuva ficou na saudade, mas as lágrimas...
nuóssa. foi sopa no mel.
Às vezes me pego me perguntando se mereço tudo isso. Todo esse carinho que tenho recebido, essa generosidade, esse acolhimento, essa sinceridade desinteressada e boa e tanta amizade que não consigo nem dizer de que tamanho é.
Mas sabe? Eu acho que mereço. Se a vida é mesmo injusta, que agora seja um pouquinho injusta pro meu bem, né? E pro bem de todos a quem quero bem, todos e todas que me acolheram e acolhem, que todo dia me ofertam um abraço, um beijo, afeto sincero e uma vida cada dia melhor.
Mas confesso que ando ficando com vergonha. Daqui a pouco vou começar a chorar com cachorro na rua. Falta isso aqui, ó.

Monday, August 14, 2006

Milk

Não sei se vocês conhecem uma das mais famosas entidades femininas: a Zica.
A Zica é aquela que me obrigou a tomar uma lata de leite condensado, agora a noite.
Ela é prima da Fefa, conhecem?

Brothers in Arms

Para quem não sabe, eu tenho um irmão.
E posso dizer de carteirinha que foi uma das crianças mais desejadas deste mundo. Se não pelos pais, de quem acredito que também diriam isso, pelo menos por esta irmã mais velha que vos fala agora.
Meu irmão menor é hoje maior do que eu. Se tornou um adulto de muito talento. É um homem bonito e interessante - isso quando se dá a conhecer, o que é muito raro. Se sente atualmente rejeitado e sinto que ele deve pensar que a vida é muito injusta com ele. E é mesmo.
Infelizmente, a vida não é justa com a gente.
Ninguém sabe o quanto de investimento a gente faz nas coisas e nas pessoas pra, um dia, pof, aquele investimento todo ir por água abaixo, pelos scraps do Orkut, pelos bilhetinhos de post-it, pelas fotos, pelas viagens todas e por tudo o que a gente planejou.
Ninguém sabe, a não ser a gente.
Eu às vezes penso que meu investimento no meu irmão não foi suficiente para que ele soubesse o quanto eu acredito nele, no talento dele, na força dele e na sua resiliência para com essas pequenezas que cruzam o nosso caminho.
Ao mesmo tempo, às vezes penso que sim, que investi certo e que só estou esperando o tempo certo chegar para ele perceber tamanho amor. Mesmo que o amor esteja escondido num monte de impropérios.
Eu queria poder dizer pra ele das coisas todas que pensei pra nós e pra nossa parceria quando fôssemos os dois grandes pra sair à noite e tomar cerveja juntos, mas às vezes também acho a vida injusta comigo, que não pude ainda realizar meus planos. Mas talvez o tempo seja generoso comigo e um dia me dê essa oportunidade.
Hoje ainda falei de quando levei meu (ainda) pequeno irmão ao show do Eric Clapton. E me lembro de muitas outras vezes, quando sua adolescência insuportável me deu muitas frustrações.
Enfim. Eu tenho um irmão e queria poder dizer um monte de coisas pra ele. Queria poder pô-lo no colo e protegê-lo das crianças grandes da escola, das namoradas bestinhas, da falta de auto-estima, de tudo. Mas sou só uma irmã longe, perdida e sozinha na baía de Guanabara enquanto um guri se perde sozinho nas ruas da Cidade Baixa.

The Sweetest Gift

Eu sou daquelas pessoas que se diverte mais comprando presente pros outros do que ganhando presente. Sinceramente. No Natal, nada me deixa mais feliz do que ver que acertei o presente das pessoas - e olha que sou boa nisso.
Mas preciso dizer, do fundo do meu coração, que não ter um pai que valha a pena presentes de dia dos pais, natal, páscoa ou qualquer outra coisa é uma bênção pro meu bolso magrinho.

Saturday, August 12, 2006

Honky Cat

Amanhã é aniversário do gato da minha vida.
Ele apareceu na minha vida dum jeito muito doidinho.
Quando eu vi, logo eu, que nunca tive nenhum bicho de dentro de casa, estava com um bebezinho de olhos verdes numa caixinha, indo pra casa. De enxoval e tudo, muitos brinquedinhos, ração e tudo o que um bebê gatinho podia querer.
Ele chegou e se escondeu em casa. Sempre foi muito desconfiado. E era um bichinho de pelúcia, um bonequinho raro que me olhava com aqueles olhinhos ainda verdes e miava pequeno.
Naquela primeira noite, veio miando baixinho pela casa, até pular em cima da cama e se enfiar debaixo das cobertas, pequeno e indefeso, se sentindo sozinho num lugar novo com gente estranha.
E muitas outras vezes, depois daquilo, acordei com o já não tão pequeno Koda deitado em cima de mim, cinco quilos de gostosura felina acomodados ronronando quentinho na minha barriga ou deitado juntinho de mim, dividindo o travesseiro.
Foi o melhor nome que eu pude dar pra ele, que tal qual o Koda-urso me ensinou qual era o meu totem. Ele me ensinou, com aquela carinha, aqueles olhos desconfiados e tolos, aquele resmungar descendo a escada, a patinha de um dedo cor-de-rosa, aquele ar de Greta Garbo querendo ficar só, egocêntrico e ciente da sua beleza. O filhote mais lindo que eu já vi na vida.
Ele me ensinou a querer outros filhotes, a amar e respeitar e querer muito aquele calorzinho peludo e macio por perto. E a saudade dele me aperta tanto às vezes que chega a doer. E dói mais do que a cicatriz no joelho que ele me deixou, tão pequenino que era incapaz de pular direto no colo da mamãe e cravou suas unhas finas na minha perna.
O Koda tem duas manas, mas só ele é o Koda-filhote.

A vida não presta

Chato fazer um post 200 com esse título, mas é o que sinto toda vez que topo com notícias como sequestro. Principalmente quando o sequestrado é meu conhecido, cruzava comigo nos corredores da faculdade, era uma pessoa muito querida e competente.
Diazinho chocho, esse. Embora lindo, estou com uma dificuldade quase insuperável de sair da cama. E dor de cabeça, que já tenho minhas dúvidas se não é da fome preguiçosa.
Mas há jeito de consertar um dia em que se acordou ao som do pagodão da vizinhança? Olha que a Paradiso está se esforçando.

Friday, August 11, 2006

Bichos escrotos

Por algum motivo que eu ignoro, minha casa está abrigando mosquitos. Bichos chatésimos que ficam zunindo no meu ouvido de noite. E eu, obviamente, sempre esqueço de providenciar veneno.
Conclusão: fico me estapeando que nem uma doida.

Tuesday, August 08, 2006

Waiting for the miracle

Quem espera, às vezes cansa.
Mas quem não cansa, às vezes é recompensado.
Hoje eu tive minha recompensa de anos a fio procurando "Down em mim" versão Leo Jaime.
Ganhei uma cópia do disco Viva Cazuza, que além desta pérola tem outras delícias como Renato Russo cantando Quando eu estiver cantando, literalmente de chorar (é a última música do último lado do último disco de Cazuza...).
Isso me dá esperança de, um dia, topar com o Kiefer Sutherland na rua, saindo da Planeta Sonho com um Jack na mão. Quem sabe?

There must be an angel

Sorte do Orkut de hoje:
Não deixe que os amigos abusem de você. Trabalhe com calma e em silêncio

Bilhetinho azul

Naquele dia muito estranho, ela acordou sem vontade de acordar, nem de tomar café, nem de ler o jornal, nem de ir ao banheiro.
Foi para o computador e viu que a caixa de mensagens dele estava aberta.
E pela primeira vez, ela procurou. E achou.
Estavam ali todo o desafeto, todo o desamor, todos os não-beijos, os não-afagos. Todo o não-cuidado em fechar a porta levemente, os beijos que ele não mais dera antes de sair pela manhã, o não-diálogo. As quinquilharias, compradas todas à guisa de amor.
Estava tudo ali.
Endereçado e reservado para outro leitor, para outros olhos, para outra cumplicidade.
E ela, afogada naquilo tudo, perdida num mar de segundas-feiras sem fim.
Indecisa entre o riso, o choro, o ressentimento, o grito, ela tomou três Amytril e voltou a dormir.

Moonlight serenade

Sim, né.
Depois de seis dias brincando de dublê da Bela Adormecida, era óbvio que ontem eu ia voltar ao esperado e só conseguir dormir às cinco de la mañana.
Semana que vem taí e aí é que eu quero ver.

Monday, August 07, 2006

Troubled mind

Pois então.
Tomei um chá de banco ontem, no hospital, pra ouvir que de fato não tinha sinusite coisa alguma e estava tomando antibiótico à toa. Era uma maldita duma virose que, graças a Deus, cedeu da febre ontem mesmo.
Mas me parece que a virose tomou conta das minhas idéias e do meu ânimo já faz algum tempo. Não ando muito animada pra pensar, produzir, transcrever. Como dizia Renato Russo, o mundo anda tão complicado e eu não ando com vontade de fazer nada. Faz horas.
As coisas são realmente muito complicadas. Estou com dificuldade de entender os mecanismos das coisas. Aliás, estou com dificuldade de entender por que é que a gente escolhe pensar.
A todas essas, fico cá matutando se um guaraná ou umas vitaminas dariam conta do recado, pelo menos pra eu dar um jeito nesta casa que já virou filial do chiqueiro.
Enquanto isso... pinto as unhas de Bourbon.

Friday, August 04, 2006

Mothers and daughters

Febril e sozinha em casa, a novela parece uma opção supimpa.
Aí me peguei vendo os tais depoimentos.
O de hoje, realmente, foi muito interessante.
Diz o sujeito: "Se o marido perde a esposa, ele fica viúvo. Se a esposa perde o marido, ela fica viúva. Se os filhos perdem os pais, ficam órfãos. E quando os pais perdem os filhos? Isso não tem nem nome".

***
Dia desses hospedei uma colega aqui em casa que tem idade pra ser minha mãe.
E ela só resolveu ficar aqui em casa porque encheu o saco de atender os telefonemas da mãe DELA. 75 anos. Ligou três vezes e só sossegou quando soube que a filha ia dormir aqui - não sem antes anotar direitinho o telefone.
Ou seja: mãe é mãe, não importa a idade dos filhos. Eu até que comecei a achar a minha muito amena. :P

Hot stuff

À primeira vista, fugir do diagnóstico elementar de gripe me pareceu muito interessante.
Mas depois me dei conta de que a tal médica devia ser médium também, porque saiu taxando uma sinusite sem sequer olhar garganta, nem nariz, nem nada. Malimal mediu a pressão, apertou a barriga e ouviu os pulmões.
Só que esse negócio tá me incomodando, porque estou na minha quarta noite literalmente caliente. Depois do horror dos 38 e meio na terça, episódios de 37 e meio têm se repetido com uma frequência realmente irritante. O problema não é a febre, é essa sensação permanente de cabo de guarda-chuva na boca, nenhum apetite, frio e calor, desconforto, prostração. Quatro dias não dá pra querer. Fora a sacola de remédios, cada um num horário diferente. Alguém tem alguma idéia?

Thursday, August 03, 2006

Epitáfio

Ele era a mais clássica personificação do "alemãozão da colônia" - embora fosse filho de suíço e polonesa. Era grande, tinha olhos azuis e mãos de dedos longos. E tinha um nome complicado, cheio de agás.
Teimoso, mesmo quando o motivo da teimosia faria bem a ele.
Fã incondicional do Getúlio e do Silvio Santos.
Tinha um apreço especial por implicar comigo, eu que era tão certinha e não podia tolerar que o pica-pau virasse pau-pica e os Três Xirus fossem ti-ti-us.
Lia jornal, fazia contabilidade de dízimos, me levou pra escolinha dominical, sempre catava um bombom sabe lá de onde.
Almoçava religiosamente ao meio-dia.
Teve um Corcel (ou era um Opala? nunca sei) branco que durante muito tempo me impressionou porque abria os vidros de trás.
A única pessoa que em pleno século XXI achava que eu era "amasiada". Assistiu TV em preto e branco sabe Deus até quando e ouvia LP's no seu toca-discos pra toda a vizinhança ouvir.
Se foi. Hoje, aos 86 anos recém completados no hospital. Espero que estes últimos dias tenham sido serenos.

Wednesday, August 02, 2006

Bad Medicine

O combo sopa/chazinho/resfenol/soro não deu nem pro cheiro.
De hora e meia em hora e meia, a medição durante a noite não saía dos 38 e meio. E eu apavorada pensando no que fazer se chegasse nos 39.
Calor e calafrio se intercalando. Ora jogava as cobertas pra longe, ora recolhia tudo para o pescoço.
E a dor, pelo corpo todo. Mais do que uma jamanta, a sensação era de que um martelo tinha passado pela minha coluna, pelo meu pescoço.
O alívio foi chegar só pela manhã, lá pelas nove, nove e pouco. Enjoada demais pra comer, engoli uma bolachinha com um pouco de leite. E mais um antitérmico.
Aí, dormi. E acordei ensopada de suor e sem febre, pela primeira vez em quatorze horas.

Mas graças ao Cristo e a despeito da confusão da secretária que me disse uma coisa e fez outra, tinha hora no médico hoje. Médica, aliás. Seca, quase estúpida. Sequer aperto de mão ganhei.
E o diagnóstico inicial: sinusite aguda. E uma batelada de exames pra fazer, além de um rol de remédios. Não quero nem ver. Aliás, quero é ver quando é que vai passar essa preguiça nojenta pra eu poder me mexer e ir providenciar essas coisas.

Tuesday, August 01, 2006

Fever

38.2.
E eu que achei que era só uma crise de rinite.
Mas essa sensação de jamanta-passou-por-aqui não me engana. Brabo vai ser ir fazer um chá ou um sopa desse jeito.

***
E eu que queria escrever sobre a satisfação de chegar e ir encontrar aquele povo maravilhoso pra tomar cerveja e falar bobagens, elogiar o astral da casa que conheci ontem, bla bla bla coisas legais, vou ficar só no queixume por enquanto que é só o que sai desta cabeça porongal.

Casa

Primeiro era vertigem
Como em qualquer paixão
Era só fechar os olhos
E deixar o corpo ir
No ritmo...
Depois era um vício
Uma intoxicação
Me corroendo as veias
Me arrastando pelo chão
Mas sempre tinha a cama pronta
E rango no fogão
Luz acesa, me espera no portão
Pra você ver
Que eu tô voltando pra casa
Me vê
Que eu tô voltando pra casa
Outra vez

Aiai.
Estranhamente, me sinto voltando pra casa chegando na baía.
Aliás, ouso dizer que me sinto não voltando, nem partindo de lugar algum. Meio apátrida, mas não traidora.
Só assim, meio surreal.