Thursday, August 30, 2007

Lord help me please

Eis que Deus, em sua infinita misericórdia, me deu duas chances de minorar a miséria absoluta que tenho vivido nos últimos tempos.
A primeira apareceu lá pelas dez e meia da manhã. Um folhetinho de fundo-de-quintal com uma capinha amarela impressa em gótico. Tava lá, na página 18, a informação que eu estava procurando há quase quatro anos:
Em 25 de julho de 1845, chega a barca inglesa "Agripina" de 258 toneladas, embarcando 208 colonos e chegando com 210, dois nasceram a bordo, levando 44 dias de viagem. Um dos passageiros era corcunda.
Famílias que vieram nesse navio: bla bla bla bla
NICOLAU GRINGS bla bla bla
Entre os colonos chegados nesta embarcação, apareceram dois casos de febre tifo. Os doentes foram logo isolados, mas sendo a doença contagiosa, logo apareceram outros casos. O Governo Provincial alarmado com a situação, logo providenciou a partida para a serra dos colonos que ali estavam.

QUATRO ANOS procurando por alguma notícia da chegada deste homem, e ela me aparece numa quinta-feira descompromissada com a felicidade num folhetinho encaminhado para o Depósito Legal na Biblioteca Nacional. Lembrei de todos os cartórios, cemitérios, cidadezinhas do interior e matos afora em que me enfiei procurando saber quando diabos esse homem tinha chegado. Todos os e-mails, tudo o que li, estudei, busquei, vasculhei, e a única pessoa que me ajudou e que sabe de todo esse processo não merece saber deste avanço. Crise de choro número 2 do dia.

E a segunda oportunidade veio lá passando das quatro da tarde. E era ELE.

Wednesday, August 29, 2007

Gett off

Porque eu tô um perigo.
Acabo de gastar mais de R$ 20 em farmácia, R$ 11 em comida ruim na rua e quase R$ 90 comprando dois livros absolutamente desnecessários - um deles, inclusive, por R$ 20 a mais do que se eu tivesse comprado no Submarino.
E isso que me controlei e não entrei na loja pra comprar uma bota de vinil. E me esqueci da outra bota que está bem pertinho aqui de casa a um preço ótimo.
Dêem graças a Deus que não comprei uma peça belíssima de brocado francês por R$ 60. É. Eu AINDA não perdi a noção da realidade por completo.

Vogue

Strike a pose.

Estou me sentindo ridiculamente deslumbrada com meu retrato encadernado em cor-de-rosa sob o título de meditações.
Hoje diz o seguinte:

Como nos desvirtuamos na tentativa de agradar os outros! Historicamente, as mulheres sempre foram controladas pelas exigências e expectativas de outras pessoas. Aceitamos com tanta disposição que os outros nos definissem e nos esforçamos tanto para nos encaixar nessas definições que não temos mais a menor idéia de quem somos.
[...]
Nos dias de hoje, porém, em que as mulheres pedem o divórcio, parece que são os homens que rapidamente encontram uma mulher para lhes fazer um novo ninho, ao passo que as mulheres se tornam nômades. Muitas das definições atribuídas a nós foram inventadas por outras pessoas, para agradar a elas e para suprir as necessidades delas - e temos tentado, desesperadamente, nos encaixar nessa imagem considerada aceitável.

Tuesday, August 28, 2007

Stand by me

Bom mesmo é sentir que se pertence a um time de craques consagrados, mesmo tendo chegado ontem.
Aparece alguém com um Nietzsche novinho em folha perguntando quem é que "faz esse tipo de coisa normalmente".
Cá com meus botões, pensei que fosse eu, mas não ia me acusar na frente dos medalhões nunca.
E quando me viro, lá está um deles apontando pra mim.
Si, soy yo. Y la voz de mis pensamientos.

La solitudine

Desenvolvi alguns hábitos que foram de mansinho se arraigando nesta vidinha. Cochilar de tarde e a tevê muito ligada quase sempre no mudo são alguns deles. Cochilar de tarde com a tevê ligada baixinho, então, é campeão. É a medida sonora do tempo passando.
Mas nestes últimos dias consegui me livrar de pelo menos a tevê. Entre sexta e sábado, ela só foi o dar o ar da cor nas últimas horas da noite. Domingo, sim, cumpriu seu papel de trilha sonora da ressaca. Ontem e hoje, a ressaca da insônia me obrigou a manter a casa no silêncio que tem combinado melhor com o meu ruído interno. Engrenagens não fazem barulho quando operam no oco.
Tenho lido bastante nestes dias, e li duas coisas em especial interessantes.
Do meu atual livro de cabeceira de meditações, vem "Procurei ao meu redor o que estava faltando em minha vida, então descobri que o que estava faltando era eu."
E o Gabo me veio com mais essa pérola da palavra escrita:
"Taciturno, silencioso, insensível ao novo sopro de vitalidade que estremecia a casa, o Coronel Aureliano Buendía compreendeu de leve que o segredo de uma boa velhice não é outra coisa senão um pacto honrado com a solidão".

Monday, August 27, 2007

Esperanduquê?

Adoro.

Eu nada posso esperar de uma raça que só tem filhadaputa
Se espalha por todo lugar mas tem mais em Brasília
Escuta
No Brasil já teve guerrilha
Com armas
Com tudo
Mas hoje só temos um bando de cego surdo burro e mudo
Ninguém faz nada
Nem os governantes nem a massa dominada
O povo é ignorante e o governo é uma piada
E se você não é um ignorante
Muito bem
Então pelamordeDeus venha se expressar também
A voz do povo é a voz de Deus
Quem disse isso não fui eu
Mas eu acho que quem escreveu essa frase era ateu
Porque esse povo tá sem voz
O povo tá calado
Tá parado esperando Deus batendo palma pro diabo
E enquanto o diabo-rato-porco vai se perpetuando
O povo fica parado debaixo
De quatro
Bobolhando
Bobolhando
Se matando
Sem dinheiro
Esperando deitado de bruços
Esse é o povo brasileiro
Bobolhando
Boboescutando
Boboescutando
É você
Boboesperando
Boboesperando...
Esperando...
Esperanduquê?


Complete-se com a brilhante definição de Antonio Prata:
Ser de classe média significa ter uma proximidade compulsória com os outros e, consequentemente, estar em constante negociação com o mundo. Afinal, você não está entre a minoria que faz as regras, nem junto à massa que apenas as seguem. Eu não imagino, por exemplo, o Antonio Ermírio numa reunião de condomínio, secando o rosto com um lenço e dizendo, exaltado: “nem vem, Dona Arminda, a vaga do 701 já tava prometida pra mim faz tempo, a senhora devia era cuidar do Arthur que faz um escarcéu com o patinete no playground bem depois das dez”.

É genial, mas fiquei deprimida de súbito.

Caught in a web

Eu tenho me divertido com as coisas que as pessoas procuram na web e acabam caindo aqui.
São pérolas do tipo "fotos dos pés da Cristiane Pelajo", "carioca fala lindo" e a última maravilha tinha algo a ver com imposto maionese soya.
Agora, filho, por favor, consulte o Houaiss, o Aurélio, ou qualquer outro amansa-burro. As praias são de NUdismo, e não LUdismo.

Whisky a go-go

Bar lotado, como de costume, as pessoas se acotovelando no balcão.
Tô vendo a mocinha querendo pedir algo e um rapazito mal-educado esparramado na frente dela, ocupando lugar de umas duas pessoas e meia.
Pergunto se posso ajudar, se ela quer pedir algo.
Ela quer. Um Red Label. A dose dupla em copos separados, pouco gelo.
Peço, e enquanto não vem, converso uma amenidade qualquer.
Dou os copos a ela e ela me devolve um deles.
"Fica com esse que você merece".
Brinda e sai.

Sunday, August 26, 2007

Sweet child o'mine

Ela entrou oficialmente na vida "adulta" como uma lolita. Olhos marcados, cílios alongados pelo rímel, as longas unhas vermelhíssimas e o fetiche supremo, uma cinta-liga branca escancaradamente à vista entre o scarpin preto e a microssaia jeans.
Sad but true: me senti bem com isso. Na verdade, acho que nunca tinha me sentido tão bem comigo mesma.
Eu, quase balzaca, meio gordinha, com estrias e celulite, inseguranças e problemas, mas tão em mim, tão ciente do que é preciso (e do que não é) para ser mulher. Tão inteira em all-stars de ovelhinhas que entendi que o fetiche é pra ser um prêmio, não uma anunciação. Tão feliz em poder incorporar que o feminino não depende de nada do que se veste, mas sim do que se é.
E estava tão feliz com a minha inteireza que me perdi naquela noite.

Saturday, August 25, 2007

Starman

Sábado, sete e vinte da noite, eu em casa com um Torrontés e um camembert.
Pensando (nah, que grande novidade) que eu não sou deste planeta.
As pessoas são más e eu estou farta delas.
As pessoas parecem sempre felizes e eu não consigo.
As pessoas parecem sempre difíceis e eu não sei fazer isso.

Vengam santos milagrosos
Vengam todos en mi ayuda

Eat the rich

O que a gente não faz por uma causa nobre.
Em reunião extraordinária, três dos fundadores da Confraria das Dragas se reuniram para empenhar esforços em prol do Instituto do Câncer Infantil do RS. Na ocasião, foram consumidos CINCO Big Macs, duas batatas grandes, duas cocas light médias, uma saladinha e um chá. E de sobremesa, três sundaes e uma casquinha com cobertura.
A Baby Draga aqui participou tão intensamente do convescote que agora está se dedicando à árdua tarefa de digerir o big e meio que lhe coube neste latifúndio.
Faltou só a fotografia do estrago.

Friday, August 24, 2007

If God will send his angels

"Jesus tem um amor muito especial por você. Quanto a mim, o silêncio e o vazio são tão grandes que olho e não vejo, escuto e não ouço."
"Por favor reze especialmente por mim para que não estrague a obra d'Ele e que Nosso Senhor possa se mostrar - pois há uma escuridão tão terrível dentro de mim, como se tudo estivesse morto."
"Digo palavras de orações comunitárias - e faço de tudo para tirar de cada palavra a doçura que ela tem de transmitir - mas minha oração de união já não existe - não rezo mais."

Podia ser eu se eu tivesse algum fervor religioso, mas era Madre Teresa de Calcutá em cartas escritas entre as décadas de 50 e 70.

Des orages pour la nuit

Sorte de hoje:
Você tem múltiplos talentos

E???

The boxer

Nunca fez tanto sentido.

I am just a poor boy
Though my story's seldom told
I have squandered my resistance
For a pocket full of mumbles such are promises
All lies and jests
Still a man hears what he wants to hear
And disregards the rest
When I left my home and my family
I was no more than a boy
In the company of strangers
In the quiet of the railway station running scared
Laying low,
Seeking out the poorer quarters
Where the ragged people go
Looking for the places only they would know
Lie la lie ...

Asking only workman's wages
I come looking for a job
But I get no offers,
Just a come-on from the whores on Seventh Avenue
I do declare,
There were times when I was so lonesome
I took some comfort there
Lie la lie ...

Then I'm laying out my winter clothes
And wishing I was gone
Going home
Where the New York City winters
Aren't bleeding me
leading me, going home
In the clearing stands a boxer
And a fighter by his trade
And he carries the reminders
Of ev'ry glove that layed him down
Or cut him till he cried out
In his anger and his shame
"I am leaving, I am leaving"
But the fighter still remains
Lie la lie ...

Polaroid

Passou pelo corredor
No bar onde ele estava
Depois derramou bourbon
Manchando a parede
O sol lhe caía bem
Entrando na avenida
Sua vida não era mais sua vida
Mas ela estava ok
Já vejo ela cruzar
Cruzando um bosque
Já vejo ela afastando-se de mim
Seus seios, duas maçãs
Servidas no café
Segredos daquela manhã
Que me mostrou sua pele
Estávamos em um bar
E se cortou na cara
Vibrava como em um nirvana
E começou a correr
Já vejo ela cruzar
Cruzando um bosque
Já vejo ela afastando-se de mim
Passávamos todo o dia
Deitados em uma cama
O tempo, maldita adaga
Lambendo nossos pés
Brilhava, era uma estrela
Nunca fazia nada
Depois disse que me amava
E se cortou outra vez
Sangrou, sangrou, sangrou
E sorria como louca
Não existe luz nem força viva
Tão poderosa
De todas elas, ela foi
Minha frase mais preciosa
Todo o seu corpo com espinhos
E a mim só sobraram moscas!

Fio maravilha

Ah, é.
Eu fui ao Maraca ver o 4x0 sobre aquela eca do Juventude.
Sorry, mas pé quente é isso aí.
E o Maraca é LINDO.

I don't want to do anything

Sometimes people say me somethings I should be glad.
But I can't.
I don't wanna do anything about it.
I just wanna be myself.
People see things on me that are NOT true.
I'm not THE girl in the party. I'm just the funnier girl. Or the girl in the funnier wear. Or... or. so many ways.
But anyway, I've lost my way so long ago.
Perhaps I'm going to do just it: to be the girl in the funnier wear everytime. Or the stronger. Or the stranger. Who knows?
(This way I know I have to improve my english. YES I DO.)

Tantas palavras vazias entre os dentes
Seja bem vindo ao lar
Eu tenho histórias pra te contar

Sobre o tempo

O tempo passa e nem tudo fica
A obra inteira de uma vida
O que se move e
O que nunca vai se mover


É.
Só isso.
Sim, eu ando ouvindo Nenhum de Nós de novo.

Wednesday, August 22, 2007

Camila, Camila

Fiquei olhando pra ela.
Aquelas mãozinhas tão pequenas, de dedos tão finos, uma segurando um cigarro e a outra um copo de chope. E a voz, e o gestual, tudo ainda meio desengonçado e desencontrado de um corpo verdadeiramente feminino. Algo de pueril à flor da pele. Calculei.
E acertei. Dezessete. Apenas dezessete anos.
Dezessete anos e todo o amor do mundo para dar, que seja eterno enquanto dure.
E eu do lado de cá, uma quase balzaca em cuja cabeça ecoam as palavras do mímico: Love disappears.

Love generation

A desarmonia que envolve Vênus no céu com o planeta Mercúrio do seu mapa entre os dias 22/08 (hoje) às 22h53 e 26/09 às 14h39 não é um conflito grave, Luciana, e diz respeito a alguns conflitos internos relacionados à sua forma de vivenciar o amor. É possível que, neste momento, você venha a questionar mais a sua vida afetiva, percebendo de forma mais intensa as suas insatisfações. Mas o problema neste período é que de nada adiantará muito pensar, pensar e pensar. O excesso de especulação neste momento não melhora a sua vida amorosa, e pode até torrar a paciência alheia, se você ficar falando demais sobre isso.

HAAA, NÃO DIGA.

Never as good as the first time

Tati Bernardi arrasando tanto que vale a cópia.

Você sempre me disse que sua maior mágoa era eu nunca ter escrito um texto sobre você. Nem que fosse te xingando, te expondo. Qualquer coisa.
Você sempre foi o único homem que me amou. E eu nunca te escrevi nem uma frase num papelzinho amassado.
Você sempre foi o único amigo que entendeu essa minha vontade de abraçar o mundo quando chega a madrugada. E o único que sempre entendeu também, depois, eu dormir meio chorando porque é impossível abraçar sequer alguém, o que dirá o mundo.
Outro dia eu encontrei um diário meu, de 99, e lá estava escrito “hoje eu larguei meu namorado sentado e dancei com ele no baile de formatura”. Ele, no caso, é você. Dei risada e lembrei que em todos esses anos, mesmo eu nunca tendo escrito nenhum texto para você, eu por diversas vezes larguei vários namorados meus, sentados, e dancei com você. Porque você é meu melhor companheiro de dança, mesmo sendo tímido e desajeitado.
Depois encontrei uma foto em que você está com um daqueles óculos escuros espelhados de maconheiro. E eu de calça colorida daquelas “bailarina”. E nessa época você não gostava de mim porque eu era a bobinha da classe. Mas eu gostava de você porque você tinha pintas e eu achava isso super sexy. E eu me achei ridícula na foto mas senti uma coisa linda por dentro do peito.
Aí lembrei que alguns anos depois, quando eu já não era mais a bobinha da classe e sim uma estagiária metida a esperta que só namorava figurões (uns babacas na verdade), você viu algum charme nisso e me roubou um beijo. Fingindo que ia desmaiar. Foi ridículo. Mas foi menos ridículo do que aquela vez, ainda na faculdade, que eu invadi seu carro e te agarrei a força. Você saiu cantando pneu e ficou quase dois anos sem falar comigo.
Eu não sei porque exatamente você não mereceu um texto meu, quando me deu meu primeiro cd do Vinícius de Morais. Ou quando me deu aquele com historinhas de crianças para eu dormir feliz. Ou mesmo quando, já de saco cheio de eu ficar com você e com mais metade da cidade, você me deu aquele cartão postal da Amazônia com um tigre enrabando uma onça.
Também não sei porque eu não escrevi um texto quando você apareceu naquela festa brega, me viu dançando no canto da mesa, e me disse a frase mais linda que eu já ouvi na minha vida “eu sei que você não gosta de mim, mas deixa eu te olhar mesmo assim”.
Talvez eu devesse ter escrito um texto para você, quando eu te pedi a única coisa que não se pede a alguém que ama a gente “me faz companhia enquanto meu namorado está viajando?”. E você fez. E você me olhava de canto de olho, se perguntando porque raios fazia isso com você mesmo. Talvez porque mesmo sabendo que eu não amava você, você continuava querendo apenas me olhar. E eu me nutria disso. Me aproveitava. Sugava seu amor para sobreviver um pouco em meio a falta de amor que eu recebia de todas as outras pessoas que diziam estar comigo.
Depois você começou a namorar uma menina e deixou, finalmente, de gostar de mim. E eu podia ter escrito um texto para você. Claro que eu senti ciúmes e senti uma falta absurda de você. Mas ainda assim, eu deixei passar em branco. Nenhuma linha sequer sobre isso.
Depois eu também podia ter escrito sobre aquele dia que você me xingou até desopilar todos os cantos do seu fígado. Eu fiquei numa tristeza sem fim. Depois pensei que a gente só odeia quem a gente ama. E fiquei feliz. Pode me xingar quanto você quiser desde que isso signifique que você ainda gosta um pouquinho de mim.
Minhas piadas, meu jeito de falar, até meu jeito de dançar ou de andar. Tudo é você. Minha personalidade é você. Quando eu berro Strokes no carro ou quando eu faço uma amiga feliz com alguma ironia barata. Tudo é você. Quando eu coloco um brinco pequeno ao invés de um grande. Ou quando eu fico em casa feliz com as minhas coisinhas. Tudo é você. Eu sou mais você do que fui qualquer homem que passou pela minha vida. E eu sempre amei infinitamente mais a sua companhia do que qualquer companhia do mundo, mesmo eu nunca tendo demonstrado isso. E, ainda assim, nunca, nunquinha, eu escrevi sequer uma palavra sobre você.
Até hoje. Até essa manhã. Em que você, pela primeira vez, foi embora sem sentir nenhuma pena nisso. Foi a primeira vez, em todos esse anos, que você simplesmente foi embora. Como se eu fosse só mais uma coisa da sua vida cheia de coisas que não são ela. E que você usa para não sentir dor ou saudade. Foi a primeira vez que você deixou eu te olhar, mesmo você não gostando de mim.
E foi por isso, porque você deixou de ser o menino que me amava e passou a ser só mais um que me usa, que você, assim como todos os outros, mereceu um texto meu.

Tuesday, August 21, 2007

Fuga

Deu no Personare de hoje: "o Sol na Casa 2 pede atenção e valorização no tocante ao dinheiro, e a Lua na Casa 5 sugere um desejo emocional de cair na esbórnia. O conflito aqui é: poupar ou satisfazer o emocional? Usar o dinheiro para o essencial, ou dar alegria à criança interior, que quer se divertir? Apenas você poderá encontrar uma solução para este conflito, Luciana, mas tenha em mente que é possível alcançar uma resolução 'equilibrada', nem muito ao Sol, nem muito à Lua. Vale apenas ter auto-observação."

Pffff.
Esbórnia é um nome BASTANTE apropriado e bem mais bonito do que CRISE ANSIOSA.
Enquanto o dinheiro foi pela janela hoje numa montanha de coisas praticamente supérfluas como livros, revistas e shampoos, a quantidade de comida que moveu este maxilar foi digna de nota.
Quem disse que barriguinha é sinal de prosperidade é porque nunca viu um ansioso que não anda nem ao Sol, nem à Lua, nem resolve nada, nem alegra a criança interior.

Monday, August 20, 2007

Sex (I'm a...)

Pérola do dia: Mulheres Confessam: só o anonimato da Internet poderia permitir tanta sinceridade, de Sonsoles Fuentes e Laura Carrión. As jornalistas puseram à disposição na Internet um formulário para vasculhar as fantasias sexuais femininas, e com a ajuda de uma equipe de especialistas, analisaram detalhe por detalhe dos vários casos contados e mantidos sob o mais absoluto sigilo de identidade.
Impressionante, assustador e ao mesmo tempo animador é ver que a maioria de nós é educada debaixo duma carcaça de impeditivos para o prazer - digo animador porque pelo menos não estamos sozinhas no mundo e há saída para isso. Mas o começo de todas as frustrações é sempre o mesmo: "Fomos ensinadas a ser boas meninas e não é bonito confessar que estamos no cio o dia inteiro". Nossa cultura machista não tolera que consideremos a possibilidade de sexo casual, sem alianças e juras de amor. E se o fizermos, somos tachadas de vagabundas - ao contrário deles, para quem não se envolver emocionalmente é condição sine qua non de macheza.
Sinceramente? Que irritação que me dá.

Big girls don't cry

I need some shelter of my own protection
Be with myself in center, clarity
Peace, Serenity

But I've gotta to get a move on with my life
It's time to be a big girl now
And big girls don't cry

***
Am I wrong?
have i run too far to get home, yeah
Have I gone?
and left you here alone
If i would, could you?

Pra ser sincero

Quase caí da cadeira quando ouvi Engenheiros no rádio.

Prá ser sincero
Não espero de você
Mais do que educação
Beijo sem paixão
Crime sem castigo
Aperto de mãos
Apenas bons amigos...

Prá ser sincero
Não espero que você
Minta!
Não se sinta capaz
De enganar
Quem não engana
A si mesmo...

Nós dois temos
Os mesmos defeitos
Sabemos tudo
A nosso respeito
Somos suspeitos
De um crime perfeito
Mas crimes perfeitos
Não deixam suspeitos...

Prá ser sincero
Não espero que você
Me perdoe
Por ter perdido a calma
Por ter vendido a alma
Ao diabo...

Um dia desse
Num desses
Encontros casuais
Talvez a gente
Se encontre
Talvez a gente
Encontre explicação...

Um dia desses
Num desses
Encontros casuais
Talvez eu diga:
-Minha amiga
Prá ser sincero
Prazer em vê-la!
Até mais!...

Sunday, August 19, 2007

A Dança

Renato Russo é que era o cara.
No meio das diversas músicas imbatíveis, ele conseguia descrever uma porção de casos patológicos que andam por aí soltos perturbando a pretensa ordem do universo. Olha isso.

Não sei o que é direito
Só vejo preconceito
E a sua roupa nova
É só uma roupa nova
Você não tem idéias
Pra acompanhar a moda
Tratando as meninas
Como se fossem lixo
Ou então espécie rara
Só a você pertence
Ou então espécie rara
Que você não respeita
Ou então espécie rara
Que é só um objeto
Pra usar e jogar fora
Depois de ter prazer.

[...]

Você com as suas drogas
E as suas teorias
E a sua rebeldia
E a sua solidão
Vive com seus excessos
Mas não tem mais dinheiro
Pra comprar outra fuga
Sair de casa então
Então é outra festa
É outra sexta-feira
Que se dane o futuro
Você tem a vida inteira
Você é tão esperto
Você está tão certo
Mas você nunca dançou
Com ódio de verdade.

Você é tão esperto
Você está tão certo
Que você nunca vai errar
Mas a vida deixa marcas
Tenha cuidado
Se um dia você dançar.

Nós somos tão modernos
Só não somos sinceros
Nos escondemos mais e mais
É só questão de idade
Passando dessa fase
Tanto fez e tanto faz.

Confesso minha dúvida diante de tantas letras. Há tempos? "Índios"? O teatro dos vampiros? Metal contra as nuvens? L'avventura? Os barcos? A canção do senhor da guerra?

Waiting for somebody

Dos filmes que vão ficar para sempre na minha filmografia básica, por um motivo ou outro, o da hora é Singles.
Eu gostava dele, até pela trilha sonora que é uma graça, mas era só mais um dos filmes que eu gostava e ponto. Aí ocorreu a cisma do Oriente e eu me tapei de um certo nojinho do filme.
Mas como o mundo dá voltas, achei que estava na hora de tentar revê-lo.
Aproveitei e comprei por um precinho camarada.
E cheguei à conclusão de que tempos atrás me faltavam algumas experiências para eu entendê-lo por completo.
Mais do que o mundo dar voltas, ou ter pessoas que demoram a chegar porque ficaram presas no trânsito (a única cena que eu realmente saí da sala), acho que o grande frasista do filme é o personagem do Eric Stoltz, o mímico que fala em alto e bom som "Love disappears!"
Em resumo: entrou pra galeria junto de Susie e os Baker Boys, Corações Apaixonados, Alta Fidelidade, Amadeus e por aí afora.

***
Uh-oh.
Revendo com atenção, me dei conta de um link que até então havia passado em branco na minha percepção.
Tem uma capa do Betty Blue no mural.

Quarto de hotel

A cada cena as paredes mudam de cor
O quarto fica quase escuro
Iluminado apenas pela letra H
Da palavra hotel escrita em néon


E eu, como dá pra notar, elucubrando a mil por hora.
E chegando à seguinte conclusão: razão e pessimismo estão diretamente ligados.
Quando eu chegar no niilismo aviso todo mundo.

Eu que não amo você

Eu que não fumo queria um cigarro
Eu que não amo você


E estou aqui ouvindo Engenheiros. É o fim dos tempos se aproximando.

Mas para me redimir, já coloquei a discografia do Nenhum pra baixar.
Depois que o Globo publicou uma matéria dizendo que as mulheres são naturalmente infiéis, não estou nem me sentindo culpada por este deslize.

Here comes trouble again

Ouvindo músicas cujas letras me batem profundamente nestes dias, fico com vontade de postar milhares de trechos aqui.
Mas acho que é mais simples e menos retardado dar a playlist.

Elton John - Blue Avenue
Legião - Metal contra as nuvens, O Teatro dos Vampiros, "Índios", e por aí vai
Bon Jovi - These days
Vitor Ramil - Joquim e o Ramilonga quase todo
Antonio, ex-Totonho Villeroy - Balada para Monk
Pink Floyd - Dogs

Saturday, August 18, 2007

I alone


Copiei do Derbi, que copiou de alguém, mas é isso aí.

E já que este é um post escancaradamente de pequenos furtos das idéias alheias, aí vai mais uma que roubei do Fernando:

"Na verdade, o que mais gosto nesse barzinho sujo, um dos vários que freqüento, é que ninguém jamais me procura nem me incomoda. Posso ver tudo e andar por onde quiser, que continuo sozinho com minha bebida. Mas isso agora é quase dolorosamente uma força de expressão; há muito tempo ninguém me procura ou se incomoda comigo em lugar algum."
Adaptação do texto de John O'Brien no livro "Despedida em Las Vegas"

Die, die my darling

"vi. cansaço de coisas dá úlcera
cheguei atrasado pra morte."
(Mojo?)

Bota cansaço nisso. Cansei de pessoas também, eu acho.

E se a Morte fosse uma menina?

Have a cigar

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,

Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.


(Tabacaria - Álvaro de Campos, 15 jan. 1928)

These days

These days - the stars seem out of reach
These days - there ain't a ladder on these streets
These days - are fast, love don't last in this graceless age
There ain't anybody left but but us these days

Don't you know that all my heroes died
And I guess I'd rather die than fade away

Joquim

Louco, Joquim louco
O louco do chapéu azul


Afff
Que dizer quando os dedos não acompanham as palavras na cabeça?
O que dizer quando a gente se sente desonesto até com a gente mesmo?

Quem eram esses canalhas que vieram acabar contigo?

Lanterna dos afogados

So have a good drown as you go down all alone
Dragged down by the stone

Gotta admit that I'm a little bit confused
Sometimes it seems to me as if I'm just being used

Por Deus nunca me vi tão só
É a própria fé o que destrói
Estes são dias desleais

Me dê apenas mais um tiro, por favor
Olha pra mim
Não há nada mais triste que um homem morrendo de frio

E eu sei porque você fugiu
Mas não consigo entender

E eu nem sei porque me sinto assim
Vem de repente um anjo triste perto de mim

Digam o que disserem, o mal do século é a solidão
Cada um de nós imerso em sua própria arrogância
Esperando por um pouco de afeição


(Silence is golden, mas aqui dentro não tem nem silêncio nem ouro)

Silence is golden

É.

Thursday, August 16, 2007

Too much love will kill you

Começou antes do almoço.
O carrinho do registro parou na classificação para descarregar e lá estava um livreco dos que eu classifico entre "bobagem absoluta", "conversa pra boi dormir" ou "caçador de tolos". Sim, era uma auto-ajuda. Intitulada "Meditações para mulheres que fazem demais".
Pulei em cima do livro e minha chefe caridosamente largou na minha mesa para que eu desse uma lidinha e trabalhasse nele.
Aí, pof. Lá estava eu, descrita em prosa e verso ao longo de 365 pensamentos para o ano todo. Estavam lá, com todas as letras, minhas elucubrações excessivas, minha auto-crítica exacerbada, minha solidão teoricamente controlada, meu stress e irritação quando as coisas não dão certo.
Em seguida me peguei vendo o quanto era tola ao dizer o que disse mais cedo. Eu disse que já tinha desistido de fazer todo o meu trabalho num dia só, e me peguei com mais uma pilha de uns dez livros para fazer quando faltava meia hora para eu sair, só para ver uma torre de livros a menos na minha estante.
E pra terminar, me peguei saindo do trabalho e indo direto para uma livraria - como se eu já não tivesse visto livros que chega por um dia. Fui tentar comprar o diabo do volumezinho rosa, mesmo que não estivesse acreditando que ia gastar R$ 30 numa auto-ajuda.
Pronto, já fiz demais outra vez.

Tuesday, August 14, 2007

Balada para Monk

Já que aparentemente esta letra não está em lugar nenhum da internet, contribuo.

Você falou de solidão
A solidão de um quarto escuro
Falou que estava procurando alguém
Que te levasse sobre o muro
E foi buscar tão longe longe longe
Mas tão preso a tudo
Alguma coisa sempre te detém
Um peso a mais e você fica mudo
Aliás, você anda tão calado
Anda meio adormecido
Também não tem que estar pulando aos brados
Mas podia estar mais disponível
Mais relaxado é, mais distraído até
Não, tem que estar até bem mais esperto
Aliás, você anda distraído demais e isso não é bom
Esse não é o tom da nossa nova canção
Entre milhões de seres e bilhões de átomos
Por todos os segundos onde estou e vou
Como arrancar com mais velocidade dessas bocas
Uma verdade só
Uma verdade só, uma verdade só
Uma verdade só que fosse uma verdade
Você tem medo do silêncio
Você tem medo do escuro
Você prefere um incêndio
Você se esquenta no barulho
Então tá bem
Busque além
No zen dos mantras de um homem de bem
Quem sabe à tarde um outro vem e diz
Você precisa estar atento
Precisa estar mais preparado
Seria bom revisitar os tempos
Como é que os povos foram dar por esses lados
Desertos, sol a pé, secume e dor, mas fé
Doenças e algumas conquistas por certo
No mais procure viver em paz, procure saber seu tom
Quem sabe saber um dom, quem sabe ou saberá

Sadeness

Embora uma Satisfaction violenta esteja permeando
a Sadeness do momento não me deixa em paz




e deixará?

Beautiful girl

Mas tem tanta coisa em comum...

Nicky's in the corner
With a black coat on
Running from a bad home
With some cat inside
Now where did you find her
Among the neon lights
That haunt the streets outside
Stay with me

Beautiful girl
(stay with me)
Beautiful girl
(stay with me)
She wants to go home

From door way to door way
Street corner to corner
With neon ghosts in the city
And she sings

Stay with me

She's so scared
So very frightened
Anything could happen
Right here tonight

Beautiful girl
(stay with me)

She wants to go home


Wherever it comes.

Satisfaction

Basicamente, é isso.
Por um milhão de pequenas coisas que se acumulam nos últimos tempos.
É claro que elas não eliminam as coisas comezinhas que atravancam, mas como diria o meu amado Quintana, elas passarão e eu passarinho.
E eu aqui rindo tão à-toa, querendo acreditar que sou realmente passarinho só esperando que minhas asas quebradas voltem a funcionar do jeito que deveriam.

Monday, August 13, 2007

More than words

Tem o que dizer dum findi desses?
Uma hebe conjunta, exaustiva e linda, um "clubinho" nascendo regado a coca zero, vinho do porto e cachaça da melhor qualidade.
E um dia dos pais que eu acho que nunca tive. É. Talvez possa dizer que nunca tive.
Meu pai jamais seria capaz de receber quatro pessoas na sua sala, tomando cerveja, ouvindo música. Não vejo meu pai acolhendo quem quer que seja que ele não conheça pra um almoço.
Só me lembro do meu pai fechado, reclamando, enterrado num jornal ou na Veja, ou num relatório de contas, ou bebendo, ou fazendo coisas estúpidas numa interação com qualquer ser humano até os quatorze anos - e em se tratando de uma filha ou de um filho, a estupidez aumenta potencialmente.
Aí passo um dia dos pais aos quase trinta, longe de casa e de qualquer resquício da minha própria família, no meio duma família que canta, come, bebe, dança e ri, todo mundo junto.
E no meio das várias coisas que pensei e falei hoje, eu mesma me dei conta de que a chave pra tudo estava em mim como eu mesma já coloquei aqui. A chave pros nossos problemas está sempre em nós mesmos.
Eu POSSO me perdoar por não conseguir amar um homem que não admiro. Eu posso me perdoar por não amar um sujeito que nunca foi amoroso, nunca foi amigo, nunca foi aberto, nunca me deu um bom exemplo, nunca tentou me regar como a uma pequena flor que cresce, nunca quis ser pai de nada, nem de ninguém.
Eu posso me perdoar por não ser a Electra. Posso entender por que não chego perto de homens carecas, ou que lutam algum tipo de coisa oriental. Hoje eu compreendo melhor por que é que tipos magros demais não me chamam a atenção. Sei por que é que eu procuro tipos expansivos - às vezes até demais, arrogantes, auto-confiantes. Entendo que consigo suportar a maior das barbaridades, desde que dita com elegância e compostura. Absorvo por que é que gosto do desafio de mostrar a esse tipo de pessoa que nada no mundo é tão absoluto, muito menos a circunferência do seu próprio umbigo.
Mas eu realmente creio, e hoje mais do que nunca, que jamais vou ser capaz de entender alguém que eu não admire por alguma coisa. Qualquer coisa, mínima. Mas eu preciso ser capaz de admirar.
Entendi que preciso domar esse meu instinto de auto-suficiência. Hoje eu me lembrei que um dia, há quinze anos ou mais, eu disse "se eu não fizer, ninguém vai fazer por mim", e que isso precisa ser superado. Entendi que preciso aprender a andar do lado de dentro da calçada, a aceitar que levem minhas compras, que abram a porta, que paguem minha conta, que me vejam menos fortaleza e mais menina, mais afetiva, menos dura e mais "namorandinha", e que isso não me diminui, nem me acrescenta, isso só sou eu, que ando tão escondida dentro desta casca guasca perdida na cidade grande de areia-mar e concreto.

Sunday, August 12, 2007

Father figure

O PAI (Luiz Coronel)

Nossa mão pequena
em sua mão
semente no fruto
ou fruta em seu cacho.

Nossos brinquedos
cabiam
em seus sapatos.

O pai é o pai
O pão e o vinho
na cabeceira da mesa.

Um dia nos descobrimos
surfando as ondas,
sobrevoando as montanhas,
cruzando estradas.

Mas todas as setas
apontam o regresso
à casa paterna.

Quando o pai sorri
o sol se impõe
sobre a neblina.

Ao abraçá-lo sentimos
o peso do tempo
sobre suas costas.

O pai tem gestos brandos
e olhar incisivo.

Mas onde quer
que estejamos
o seu olhar nos guia.

E a sua mão
nos abençoa

Friday, August 10, 2007

What a difference a day makes

É.
Dias, horas, minutos. Um mês. Um mês e tudo muda.
No balanço das horas tudo pode mudar.
What a difference time makes.
(no momento específico, vamos concordar que uma tacinha de Chardonnay e quase uma pizza inteira deixariam qualquer membro da famiglia Garfield mais feliz)

História de uma gata

Seeeenta que lá vem a história.
(Será que mais alguém além de mim sabe em que programa se dizia isso?)

Por algum motivo, os gatos me perseguem. Hoje vi quatro ou cinco, os moradores dos jardins da FBN, preguiçosamente se banhando, assustados com o movimento, ou brincando com folhas secas. Malhados, brancos, cinzentos, panteras negras.
Ontem a Cora Rónai publicou uma crônica sobre um gato. E hoje me contam que Artur da Távola falou a respeito no rádio.
Danem-se. Vou postar aqui as duas, na íntegra. Não me dou ao luxo de perder estas preciosidades nos labirintos da internet.


Irineu e os outros (Cora Rónai)

Na segunda-feira retrasada, assim que cheguei da Espanha, tive que ir ao banco tratar de um assunto tenebroso; cheguei nervosa e saí arrasada. A agência fica num edifício que dá para o estacionamento do Globo e, por acaso, havia lá um gatinho abandonado que me seguiu, me esperou pacientemente na porta e, depois, me acompanhou até a entrada do jornal.

Ali há uns bancos -- dos outros, bonzinhos, de madeira -- encostados à parede. Sentei para arrumar as idéias, gatinho ao lado. Gatos são ótimos conselheiros para toda a sorte de problemas. Percebem quando estamos aflitos e têm o poder de nos ajudar a pôr os dramas na devida perspectiva: são práticos e objetivos. Aquele filhote magro e sujo não era exceção. Ele sabia que eu precisava de apoio moral e me distraiu até que as nuvens mais negras se dissipassem

O dia seguinte era meu aniversário. O inferno zodiacal estava por pouco e, afinal, dinheiro é o de menos quando se tem saúde e felicidade. Para não falar na sorte, que inventa coincidências: como se a vida, ao me aprontar uma cilada absurda, oferecesse, com a outra mão, uma alegriazinha quadrúpede de consolo.
* * *
Na quarta, levei uma tigela e ração para o jornal. O gatinho estava magro demais, precisava comer. Minha idéia era cuidar dele lá, mantendo-o debaixo do olho, mas sem levá-lo embora. No estacionamento há um entra-e-sai muito divertido para um gato, e dócil como era, o pequeno alvinegro não teria dificuldade em fazer amigos. Cheguei e lá estava ele, dormindo encostado ao meio-fio, pronto para ser atropelado.

Acordou quando me aproximei e se atirou à ração. Estava horrivelmente fedorento: debaixo da pata dianteira direita, que nem conseguia encostar no chão, havia uma ferida purulenta. Tentei descobrir o que acontecera. Ninguém fazia idéia. Tudo o que consegui saber é que o gatinho fora abandonado há cerca de uma semana, e que vinha emagrecendo desde então. Um dos rapazes do estacionamento já até comprara ração, mas o bichinho tinha medo dos fundos, onde ficam as motos, único lugar onde as tigelinhas de água e comida ficariam a salvo do pessoal da limpeza.

Trabalhei pensando no gatinho. Levá-lo para casa seria maluquice: a Família Gato, composta de sete véinhos rabugentos, não ia aceitar um pirralho novo assim sem mais nem menos. Por outro lado, do jeito que estava, o coitado não durava uma semana... Quando saí, peguei uma caixa de papelão, catei-o no estacionamento e fomos juntos para casa. Eu trataria dele e depois encontraria um bom lar para abrigá-lo.

Antes mesmo disso, porém, ele já tinha sido batizado pelo Nelson Vasconcelos:

-- Um gato no estacionamento? Tem que se chamar Irineu...

O Globo, para quem não sabe, fica na Rua Irineu Marinho, nome do fundador do jornal. O nome pegou na hora, até porque o Irineu tem muita cara de Irineu. Tem um jeito circunspecto e engraçado, acentuado por longos bigodes brancos.
* * *
Irineu passou a primeira noite em casa de quarentena, no quarto da Bia. Não causou maior comoção, porque os gatos mal me viram chegar. No dia seguinte tomou um banho que revelou que estava ainda mais magro do que parecia. O veterinário diagnosticou uma verminose daquelas e uma cistite enjoada. O machucado da pata, tirando a gravidade da infecção e o seu aspecto horroroso, não pedia outra coisa além de antibiótico. Ao todo, se tudo corresse bem, Irineu passaria dez dias lá em casa, em tratamento, antes de seguir seu destino.

A quarentena foi mantida durante os próximos dias. Sempre que se traz um bicho novo para casa é bom deixá-lo separado dos outros por um tempo, para evitar eventuais contaminações e, também, para que os donos da casa se acostumem com o cheiro do recém-chegado, e com a idéia de que há mais um quadrúpede na área.

Aos poucos, fui liberando o Irineu: primeiro um tiquinho à toa, depois por períodos maiores. No começo muito fraquinho, ele basicamente me seguia até a sala, espichava-se no tapete e lá ficava. A Famiglia Gatto, extremamente cabreira, observava de longe. Os mais valentes se aventuravam: chegavam perto, cheiravam o forasteiro, cheiravam, cheiravam... e FSSSSSSSS!, saíam correndo.

Venho usando todos os meus truques de psicologia felina para que não se sintam mal. Faço de conta que não estou nem aí para o pequeno e me desmancho em carinhos com eles. Dou petiscos. Faço bolinhas de papel que atiro em todas as direções. Pois sim! Os véinhos me olham altaneiros e viram as costas, para que fique bem claro que estão me ignorando.

Enquanto isso, Irineu progride a olhos vistos. É um dos gatos de melhor índole que já conheci; não só aceita tomar remédio como,depois,se aninha no colo pedindo carinho. Está mais gordinho, a ferida da pata secou e, ante-ontem, saiu correndo pela casa, brincando com uma bolinha. Já anda interessadíssimo nos outros gatos.Acho que sua mãe deve ser uma tricolor, pois segue a Keaton para todo lado, chorando baixinho. Identifica-se com a Netcat, quase igual a ele, e tenta brincar com a Pipoca siamesa, que é pequenina e tem o seu tamanho.

Ainda não conseguiu conquistar ninguém -- a não ser o bípede de coração mole que escreve essas mal tecladas, e que desconfia que o Irineu nunca mais vai embora.

(O Globo, Segundo Caderno, 9.8.2007)

********

Simplesmente Gatos (Artur da Távola)

Bichos polêmicos sem o querer, porque sábios, mas inquietantes, talvez por isso...nada é mais incômodo que o silencioso bastar-se dos gatos. O só pedir a quem amam. O só amar a quem os merece.

O homem quer o bicho espojado, submisso, cheio de súplica, temor, reverência, obediência. O gato não satisfaz as necessidades doentias do amor. Só as saudáveis.

Lembrei, então, de dizer, dos gatos, o que a observação de alguns anos me deu.

Quem sabe, talvez, ocorra o milagre de iluminar um coração a eles fechado?

Quem sabe, entendendo-os melhor, estabelece-se um grau de compreensão, uma possibilidade de luz e vida onde há ódio e temor? Quem sabe São Francisco de Assis não está por trás do Mago Merlin, soprando-me o artigo?

Já viu gato amestrado, de chapeuzinho ridículo, obedecendo às ordens de um pilantra que vive às custas dele? Não! Até o bondoso elefante veste saiote e dança a valsa no circo. O leal cachorro no fundo compreende as agruras do dono e faz a gentileza de ganhar a vida por ele. O leão e o tigre se amesquinham na jaula.

Gato não. Ele só aceita uma relação de independência e afeto. E como não cede ao homem, mesmo quando dele dependente, é chamado de arrogante, egoísta, safado, espertalhão ou falso.

"Falso", porque não aceita a nossa falsidade com ele e só admite afeto com troca e respeito pela individualidade. O gato não gosta de alguém porque precisa gostar para se sentir melhor. Ele gosta pelo amor que lhe é próprio, que é dele e ele o dá se quiser.

O gato devolve ao homem a exata medida da relação que dele parte. Sábio e espelho. O gato é zen. O gato é Tao. Ele conhece o segredo da não-ação que não é inação. Nada pede a quem não o quer.

Exigente com quem ama, mas só depois de muito certificar-se. Não pede amor, mas se lhe dá, então ele exige.

Sim, o gato não pede amor. Nem depende dele. Mas, quando o sente é capaz de amar muito. Discretamente, porém sem derramar-se. O gato é um italiano educado na Inglaterra. Sente como um italiano mas se comporta como um lorde inglês.

Quem não se relaciona bem com o próprio inconsciente não transa o gato. Ele aparece, então, como ameaça, porque representa essa relação precária do homem com o (próprio) mistério. O gato não se relaciona com a aparência do homem. Ele vê além, por dentro e pelo avesso. Relaciona-se com a essência.

Se o gesto de carinho é medroso ou substitui inaceitáveis (mas existentes) impulsos secretos de agressão, o gato sabe. E se defende do afago. A relação dele é com o que está oculto, guardado e nem nós queremos, sabemos ou podemos ver. Por isso, quando surge nele um ato de entrega, de subida no colo ou manifestação de afeto, é algo muito verdadeiro, que não pode ser desdenhado. É um gesto de confiança que honra quem o recebe, pois significa um julgamento.

O homem não sabe ver o gato, mas o gato sabe ver o homem. Se há desarmonia real ou latente, o gato sente. Se há solidão, ele sabe e atenua como pode (ele que enfrenta a própria solidão de maneira muito mais valente que nós). Se há pessoas agressivas em torno ou carregadas de maus fluidos, ele se afasta.

Nada diz, não reclama. Afasta-se. Quem não o sabe "ler" pensa que "ele não está ali. Presente ou ausente, ele ensina e manifesta algo. Perto ou longe, olhando ou fingindo não ver, ele está comunicando códigos que nem sempre (ou quase nunca) sabemos traduzir.

O gato vê mais e vê dentro e além de nós. Relaciona-se com fluidos, auras, fantasmas amigos e opressores. O gato é médium, bruxo, alquimista e parapsicólogo. É uma chance de meditação permanente a nosso lado, a ensinar paciência, atenção, silêncio e mistério. O gato é um monge portátil à disposição de quem o saiba perceber.

Monge, sim, refinado, silencioso, meditativo e sábio monge, a nos devolver as perguntas medrosas esperando que encontremos o caminho na sua busca, em vez de o querer preparado, já conhecido e trilhado. O gato sempre responde com uma nova questão, remetendo-nos à pesquisa permanente do real, à busca incessante, à certeza de que cada segundo contém a possibilidade de criatividade e de novas inter-relações, infinitas, entre as coisas.

O gato é uma lição diária de afeto verdadeiro e fiel. Suas manifestações são íntimas e profundas. Exigem recolhimento, entrega, atenção. Desatentos não agradam os gatos. Bulhosos os irritam. Tudo o que precise de promoção ou explicação, quer afirmação. Vive do verdadeiro e não se ilude com aparências. Ninguém em toda natureza aprendeu a bastar-se (até na higiene) a si mesmo como o gato!

Lição de sono e de musculação, o gato nos ensina todas as posições de respiração ioga. Ensina a dormir com entrega total e diluição recuperante no Cosmos. Ensina a espreguiçar-se com a massagem mais completa em todos em todos os músculos, preparando-os para a ação imediata. Se os preparadores físicos aprendessem o aquecimento do gato, os jogadores reservas não levariam tanto tempo ( quase 15 minutos) se aquecendo para entrar em campo.

O gato sai do sono para o máximo de ação, tensão e elasticidade num segundo. Conhece o desempenho preciso e milimétrico de cada parte do seu corpo, a qual ama e preserva como a um templo.

Lição de saúde sexual e sensualidade. Lição de envolvimento amoroso com dedicação integral de vários dias. Lição de organização familiar e de definição de espaço próprio e território pessoal. Lição de anatomia, equilíbrio, desempenho muscular. Lição de salto. Lição de silêncio.Lição de descanso. Lição de introversão. Lição de contato com o mistério, com o escuro, com a sombra. Lição de religiosidade sem ícones.

Lição de alimentação e requinte. Lição de bom gosto e senso de oportunidade. Lição de vida, enfim, a mais completa, diária, silenciosa, educada, sem cobranças, sem veemências, sem exigências.

O gato é uma chance de interiorização e sabedoria posta pelo mistério à disposição do homem.

Thursday, August 09, 2007

Burn

Eis que a Sra. Mais-tarde-eu-faço aqui resolveu se coçar e tomar algumas providências hoje.
Ligou pra primeira dermatologista que se encaixava nos quesitos "está no caderno do plano de saúde" e "é perto de casa, ou do trabalho". Hora, só pra outubro. Pfff.
A segunda, sabe-se lá o que fez com o telefone, que aparentemente não existe.
A terceira tinha uma hora pras quatro da tarde, olha que beleza.
Quinze minutinhos aceitáveis de atraso e lá estou eu, no consultório da dermato, dizendo que quero investigar essa manchinha vermelha no rosto, pedir uma indicação de limpeza de pele porque acho que preciso e ver o que fazer com meus sinais.
Comecei bem. Pele bonita, tem que cuidar!
Aí ela pega a lupa. Essa manchinha é só uma irritação. Não vamos fazer limpeza porque mesmo um bom esteticista vai machucar a tua pele que é muito sensível. E esses sinaizinhos, dá pra tirar agora. A gente faz uma ANESTESIA e usa um BISTURI ELÉTRICO. É coisa rápida, dez minutos.
Mas todos???
Todos.
Tá. Manda ver.
Mas foi sem convicção, sabe? Em cinco segundos me dei conta de que precisava de mais tempo pra me habituar com a idéia. Ela pegou aquela seringa e me dei conta de que aquele troço ia espetar debaixo do meu braço. Afff.
Olha, eu vou fazer nestes aqui, depois tu me diz se posso fazer no do olho, tá?
Tá.
E me dá uma placa de metal. Segura isso com a mão.
PRA QUÊ??
Isso é o fio terra. A corrente elétrica é que vai queimar o sinalzinho, entendeu?
E eu, lá, dura, suando, tentando não aparentar o pânico que estava tomando conta de mim.
Tá nervosa?
Tô.
Calma, você não vai sentir nada.
E bzt. Em dois segundos senti meu próprio cheiro de queimado. Um já era. Foi o outro, e o terceiro. E, agora eu vi, ela esqueceu de um micro.
Olha, o da cabeça vai precisar marcar uma horinha. É a mesma coisa, só que vou ter de cortar e dar um pontinho. E vou ter de cortar um pouquinho do cabelo, também.
Ahm. Melhor assim. Tenho tempo pra me acostumar com isso.
E agora? Faço o do olho?
Não.
Ela não pôde deixar de sorrir. Ai que fresquinha, deve ter pensado.
Azar. Era meio demais pra mim sair de lá com menos quatro micro pedaços de mim com que convivi tantos anos.
Mas saí com uma receita mágica que fez sumir SETENTA reais da minha conta só em sabonetinhos e creminhos. E ainda tem o protetor solar.
Pronto. Resolvida mais uma pequena coisa, agora é correr pro próximo e definitivo trauma que me persegue há quase quinze anos. O DENTISTA.

The number of the beast

O melhor do meu trabalho é disparado o fato de que nunca faço a mesma coisa que fiz no dia anterior. Tô sempre lendo algo novo, inusitado, diferente.
A pérola do dia era um livro cujo nome não vou saber, nem agora nem nunca mais de novo, mas era um espetáculo sobre mensagens subliminares. Foi nele que descobri que o Pokémon teve vários episódios banidos - um deles porque mandou 700 pessoas pro hospital em surto epilético.
Os caras conseguem achar uma mulher seminua no Bernardo e Bianca, e frases diabólicas nas músicas da Xuxa. É realmente sensacional.
Enfim, tô ainda ruminando o montante de novas informações na cachola quando vou almoçar. Um almoço sensacional, com bobó de camarão, arroz com brócolis e outras coisas gostosas.
E a conta dá R$ 6,66.

All Star

Comprei.
E de ovelhinhas negras no meio do rebanho de brancas.
Fofo, fofo.

***
ATUALIZAÇÃO
Eu te odeio, Tati.
Por que é que tu foi pedir foto dele?
Aí fui catar na web e achei uma loja com a coleção completa do All Star... e descobri que tem um modelo igualzinho a ele, só que de GATOS.
Ó. É assim, ó, só que ao invés de rosa é azul.

Porto solidão

"Ela teve que fazer um esforço sobrenatural para não morrer quando uma potência ciclônica, assombrosamente regulada, levantou-a pela cintura e despojou-a da sua intimidade com três patadas, e esquartejou-a como a um passarinho. Conseguiu dar graças a Deus por ter nascido, antes de perder a consciência no prazer inconcebível daquela dor insuportável, chapinhando no lago fumegante da rede que absorveu como um mata-borrão a explosão do seu sangue".
GARCÍA MÁRQUEZ. Cem Anos de Solidão.

Vou ligar djá pro Gabo e perguntar se de onde ele tirou esse tem outros. E se ele faz tele-entrega.
(Piada interna: só podia vir da pena de um García)

Wednesday, August 08, 2007

Year of the cat

Uma quarta com cara de segunda.
Quarenta minutos tomando um chá de banco de manhã cedo são suficientes pra me tirar o bom humor. Some-se a isso uma falta de energia vinda não sei de onde e pronto.

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Pra terminar, descubro que o único gato que me dá bola na vizinhança vai embora. E era O MAIS GATO.
Malhado, de olhos azuis e narizinho rosa. Uma coisa grande, foférrima e abusada que vinha dar o ar da graça na lavanderia... e hoje me brindou com um quase beijinho. Um beijo de narizes, e aqueles olhinhos vesgos de olhar tão de pertinho.
E eu sem máquina fotográfica.

Tuesday, August 07, 2007

Love song for a vampire

Essa é por dois motivos.
Primeiro pelo Transylvania, que vi domingo e é um belo filme. Não, não tem nada de vampiros, mas a lembrança é inevitável.
Segundo, porque a aviltante tabela salarial que o Ministério do Planejamento apresentou hoje como proposta para os servidores da Cultura é no mínimo vampiresca - pra não usar nada de baixo calão.
Esses sujeitos que mancham qualquer passado político da esquerda deste país e chegaram ao poder só pra chafurdar no lodo me fazem sentir vergonha. Vergonha de ter acreditado num projeto diferente de gestão, vergonha de ter exercido meu poder de voto com suposta lucidez, vergonha de ter ouvido cada palavra daquele canto de sereia. Só não me tiram a certeza de que eu continuo coerente e acreditando que um dia essa gente há de se dar mal. Não se promove o desmonte de um país impunemente.

Monday, August 06, 2007

What comes around goes around

É o que precisamos acreditar a essas alturas.
Porque a vida é tão surreal - pro bem e pro mal - que fica difícil achar que grandes canalhices não tenham grandes compensações depois.
Eu confesso que estou esperando uma enxurrada de deuses gregos, lindos, inteligentes, sensíveis, afetivos e acima de tudo sinceros aportando na zona sul do Rio de Janeiro.
Não é possível.

Sunday, August 05, 2007

Seu nome

Eu devia desconfiar que quando uma pessoa com este nome só podia dar nisso. É só pensar na quantidade de vezes que este nome apareceu na minha vida, desde os quatro ou cinco anos.
Só que ao invés de gastar o tempo fazendo comidinhas de terra com manjericão fresco e dançando Fatamorgana, passei a fofocar sobre os rapazitos da noite anterior e, mais recentemente, a ficar doze horas falando sem parar sobre tudo, sobre o tempo, o aluguel, comida de cachorro, pão de queijo, genealogia, cinema, história e sobre o que vestir para a noite mais surreal do ano.
Quase uma overdose de informação, mas dava um dedinho pra fazer tudo de novo. Talvez eu tomasse mais água nos intervalos, mas faria tudo de novo. E quero dizer TUDO, desde os quatro anos mesmo. Cada uma das portadoras desse nome vale a pena.

Dancing queen

O dia mais surreal dos últimos tempos, sem sombra de dúvida.
Só não foi um dia de Jack Bauer porque não teve tons policiais, mas foram 24 horas e a hebe mais longa da história.

Thursday, August 02, 2007

Beautiful stranger

Cheguei a me desconcentrar do que ia comer no almoço.
Na mesa de fora do restaurante, cinco - eu disse CINCO - rapazes bem do estilinho preferido desta que vos fala. Todos clarinhos, cabelos escuros, olhos escuros, magros pero não magérrimos, e bem vestidos sem ser excessivamente engomadinhos. Deviam ser advogadinhos, o que estraga um pouco o composée da cena.
Mas que foi a coisa mais fofa, ah isso foi. Quase perguntei se tinha lugar pra mim na mesa, se não fosse mais do que óbvio que não tinha.

Um certo alguém

Me peguei de repente pensando num certo alguém, hoje de tarde.

Wednesday, August 01, 2007

The edge of forever

Confesso que fiquei chocada ao clicar num link do Globo hoje de manhã e dar de cara com uma transcrição da caixa preta daquele maldito avião, claramente publicada às pressas pra não perder o furo de reportagem.
Agora à noite, a coisa está mais contextualizada e chega no requinte de ter o .pdf da transcrição oficial.
Agora a gente sabe como é que a morte chegou pra eles. E foi horrível.
Era melhor a gente saber ou não disso?

Eu não matei Joana D'Arc

Isso todo mundo sabia.
Mas alguém sabe por que ela é Joana D'Arc?
Quem entende um mínimo de história medieval deve estranhar um pouco ela ter nome e "sobrenome" - quem é que tinha sobrenome nos 1400? Qualquer um com um mínimo de noção vai achar que Arc é de onde ela veio.
Mas não é. Joana D'Arc nasceu em Domrémy. D'Arc é REALMENTE o nome de família.
Ha. Boletim da Carioca também - e sobretudo - é cultura inútil.

Language is a virus

Estou convencida disso.
Minha verborragia não tem a ver com a noite. Acordei assim. That's it.
Eu ia dizer outra coisa, mas fiquei atordoada pela abobadice do Jô tomando um pseudo-chute do Van Damme.
Enfim. Engrenagens a mil é isso. A gente pensa mais rápido do que digita.
E eu consegui render uns quatro parágrafos decentes de dissertação. Não é espetacular?

Slender frame

É, assistir ao filme de ontem foi divertido pero pôs as engrenagenzinhas aqui, já velhas de guerra, a funcionar ainda mais.
E na noite de hoje, regada a comidinha boa e bom vinho, só podia dar numa verborragia que já tinha começado bem cedo, como dá pra notar.
Pus os fones a ouvir boa música e, de repente, uma em especial me transporta para os meus quinze anos.
Slender frame. A-ha.
Embora nem de longe os meus quinze tenham sido a fase em que mais ouvi A-ha, porque fui uma ouvinte tardia que só foi se tocar do quanto gostava depois do show de 2004, eu acho, essa música em especial tem o dom de imediatamente me levar pra um lugar especial lá entre junho e setembro de 1995.
Só tinha mais uma pessoa comigo. E acredito piamente que esta pessoa não faz a menor noção dessa música na minha vida, naquele momento, e por que diabos eu SEMPRE me lembro. Nem eu faço, pra dizer a verdade.
Mas me lembro, sempre. Não era nada especial e marcante como um primeiro beijo ou uma primeira nudez. Mas era um bom momento.
Eu acho que nunca vou me esquecer daquela expressão sussurando "I don't believe it", imitando o Morten Harket. Nem daquela voz, anos e anos depois cantando "Otherside" num palquinho perdido num festivalzinho perdido. Nem daquela volta de carro, anos depois, ao som do Maroon 5. Nem porque eu me lembro de "Pain lies on the riverside" ao invés de Iron Maiden.
É. Se Deus me deu uma praga, foi a de ter boa memória para o que a maioria das pessoas vai esquecer.

Walk this way

Carpinejar, mais uma vez, arrebentando.

Acredito que a paixão não leva ao amor, leva à paixão simplesmente. É um caminho sem volta. Ela descaracteriza, é uma despersonalização. Homens mudam de atitude, mulheres alteram sua forma de se mostrar. A paixão desemboca no anonimato, na mais completa estranheza. O amor é desde o princípio uma escolha, uma confirmação, uma eleição, reforça nossa personalidade. No amor, escolhemos. Na paixão, somos levados. O amor tem uma consciência louca do futuro, de fazer passado com o futuro. A paixão vive fora do tempo. O amor vive no tempo porque deixa rastros. Paixão se esquece, e amor nem enterrando acaba.


Tem outra dele impagável, publicada hoje também na sua página. Mas essa é melhor lendo todo o contexto.
Enfim. Tem letras que, como eu disse há pouco, fazem a gente se sentir menos só, menos sozinho, e de algum modo entendido e compreendido nesse mundo. Quem dera todo mundo fosse entendido assim pelos seus.